sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Os Caminhos da Transformação Estrutural em Angola: Agricultura (2)

Na nossa reflexão anterior frisamos que o sector industrial em Angola em muito poderia beneficiar caso o sector agrícola registasse um aumento de produtividade significativo. Neste post, nós vamos aproveitar um caso real para de uma forma simples ilustrarmos como o estado poderia criar um cluster agro-industrial com serviços complementares.

Ficamos a saber através de uma notícia divulgada num jornal privado que alguns agricultores na província de Benguela (localidade do Dombe Grande) reclamam por uma intervenção do estado uma vez que parte significativa da sua produção de tomate está a se deteriorar devido a dificuldades no processo de escoamento dos produtos. Bem, parece que os agricultores em Benguela já estão a fazer a sua quota parte no que deveria ser o processo de (re)industrialização de Angola.

Essa notícia por si só deveria servir de uma oportunidade para o estado angolano mostrar ao país que está verdadeiramente comprometido com o processo de diversificação da economia. Para tal algumas medidas poderiam ser tomadas, fazendo uso dos já existentes programas de apoio ao fomento empresarial (ex: Angola Investe). Para tal, pensamos nós que o estado, enquanto coordenador da actividade económica deveria mesmo desafiar os empreendedores nacionais a apresentarem projectos que pudessem dar cobro a esse problema real.

Em nosso entender os agentes privados poderiam propor projectos como: a instalação de unidades fabris de transformação de tomate que mais tarde poderiam servir para abastecer o mercado nacional e até para exportação ou investimento numa rede de distribuição deste produto. Vale realçar que todos esses projectos poderiam ser feitos de forma isolada por vários agentes privados, para permitir a especialização dos mesmos, mas de forma coordenada e interligada reduzindo desperdícios uma vez que este tipo de iniciativa exigiria avultados recursos financeiros e know-how em vários domínios.

Por outro lado, um projecto desta magnitude iria necessariamente gerar a necessidade de serviços complementares, criando oportunidades para os prestadores de serviços já existentes no mercado e/ou até o surgimento de outros prestadores de serviços mais especializados para o sector em causa (serviços virados para os agricultores e para os industriais).

Como se pode compreender do que já foi acima exposto, o papel do estado neste tipo de projecto, em nosso entender, deixa de ser o de “Super estado faz tudo e passa a ser o de criador das condições necessárias através de, por exemplo, da construção de infra-estruturas como estradas, disponibilização de terrenos com acesso a água e electricidade, para que tais investimentos fossem viáveis e gerassem benefícios aos proponentes, a comunidade local através de empregos directos e indirectos e ao próprio estado através dos impostos (ex.: industrial, IRT).

Em suma, com este tipo de intervenção deixaríamos de ver os nossos agricultores a reclamarem por uma intervenção directa do estado e como resultado de uma problema real e actual estaríamos a criar um cluster agro-industrial na região do Dombe Grande. Assim se faz/promove a tão desejada transformação estrutural da economia do país.

2 comentários:

  1. Luis Bengui Nsaka uma vez que os preço do petróleo baixou o estado deveria ajustar os seus gastos em função ao preço actual e controlar mais os gastos governamentais, e fazer investimentos viáveis e lucrativos, Em função aos agricultores da província de Benguela, se os escoamento do produto é difícil para eles, deveria criar-se alternativas para eles tal como mercados regionais para os agricultores, isto pork a maior parte deste investidores pensam que o mercado é só Luanda, criar industrias transformadoras de produtos agrícolas, tal como conserva de tomate e outros produtos, incentivar tambem que os super mercado comerciais abram as suas instalações em grande numero nestas províncias visto que grande numero dela concentram-se em Luanda e Luanda não produz quase ou nada de produtos agrícola mercados esses que deveriam apostar mais nos produtos nacional e negociar ou ter uma rede viável e seguro para escoamento desses produtos ate aos seus estabelecimento, etc assim estaremos ajudar os camponeses e os produtos nacionais

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    1. Caro Luís, você apresenta vários pontos ao mesmo tempo que vou precisar disseca-los para comentar devidamente. Sugerir que o governo controle os gastos é uma medida acertada. Contudo, será que poderias sugerir que áreas estariam sujeitas aos cortes/ajustes que sugeres?
      Sugeres que se faca investimentos viáveis e lucrativos, essa medida é básica e deveria ser seguida mesmo em tempos de bonança! Afinal o governo gere em nosso nome fundos que a todos nós dizem respeito logo, o mínimo que se espera de um agente publico é que utilize os meios e fundos a seu dispor de uma maneira racional.
      No que toca ao problema levantado pelos agricultores dizes que se deveria criar mercados regionais, mas como pensas resolver o problema actual que não permite os agricultores deslocarem os seus produtos do campo para esses mercados ? Luanda é mesmo o maior mercado do país, se há uma coisa que o censo 2014 apenas veio reconfirmar é mesmo isso. Se fores ao website do Jornal Expansão e olhares para a proposta de orçamento para 2015 vais notar que +-72% do orçamento esta alocado para a Estrutura Central, que esta localizada… em Luanda!
      Por último apresentas o que eu chamaria de uma solução integrada e eu diria mesmo sustentável, porque ligas a agricultura com a indústria, através de um sistema logístico de distribuição suportado por uma política comercial (preferência é dada a produção nacional, o estado para dar exemplo seria o maior comprador e em contra partida exigiria qualidade nos produtos e serviços). Essa solução acredito eu permite que cada um se especialize no que melhor sabe fazer, afinal o agricultor não precisa ser um industrial nem tao pouco um operador logístico. Nesta solução, como frisei no meu post, o governo apenas interviria para criar condições (infra-estruturas, acesso ao credito bonificado, incentivos fiscais, formação) e agentes privados (empreendedores sérios) fariam tudo o resto.

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