Fala-se tanto em “take-offs”
(i.e. arranque) mas o facto é que Angola ainda está por desenvolver uma indústria
manufactureira que seja intensiva em mão de obra (exemplo: indústria têxtil e a
respectiva produção de vestuário). De facto muitos dos países que hoje são
tecnologicamente fortes, começaram por desenvolver, numa primeira fase, uma indústria
que absorvesse a sua mão-de-obra e posteriormente através do chamado technological upgrade (desenvolvimento
tecnológico) foram desenvolvendo outros sectores de capital intensivo. Como exemplo
de países que seguiram esta via podemos citar a Coreia do Sul que desenvolveu posteriormente
uma indústria de construção naval, automóvel e telecomunicações e hoje produz a
escala global. A China já tem uma indústria de telecomunicações forte (ex.:
ZTE, Huawei). Hoje devido ao aumento salarial que se verifica no mercado chinês,
a China está a “exportar” a sua indústria de vestuários para países como o Camboja
e Vietnam (veja o post de 29 Julho 2014[1] sobre como países africanos poderiam
beneficiar).
Para o caso de Angola o interessante é que, até certo ponto, já se
desenvolveu um sector de capital intensivo que é a indústria petrolífera
(apesar da fraca ligação, que ainda persiste, com outros sectores da economia
local). Inicialmente este desenvolvimento foi a custa do capital estrangeiro mas
hoje verifica-se um processo de incorporação do capital nacional (se este
processo está ou não sendo feito da melhor forma e com os “melhores actores”, não
é objecto da nossa reflexão hoje mas poderemos reflectir sobre isso num próximo
post).
O mais difícil como, por exemplo, Jonathan Di John (2009) nos
mostra para o caso da Venezuela, é passar de uma indústria de mão-de-obra
intensiva para uma de capital intensivo uma vez que o arranjo político muda. Se
assim for, então podemos partir do princípio que o processo inverso, isto é,
tendo (até certo ponto) já desenvolvida uma indústria de capital intensivo,
desenvolver uma de mão-de-obra intensiva deveria ser muito mais fácil!
Então por que razão Angola foi incapaz, até ao momento, de fazer
essa transição? Sabemos que a Africa Têxtil em Benguela foi recentemente reabilitada.
Mas, será que temos produção de algodão suficiente para garantir que este
projecto não dependa da importação e a consequente saída de divisas? Como se
pode ver, continuamos a pecar no básico!
Em nosso entender, e com base na nossa pesquisa, não está
acontecendo o seguinte: coordenação dos
investimentos. Notem que no post de 1 de Janeiro 2015[2]
mencionei o facto de que a indústria manufactureira que se está a desenvolver em
Angola está virada essencialmente a dois sectores: construção e bebidas. Com a
agravante de actualmente terem poucas ligações com outros sectores da economia,
o que não ajuda a absorver o que
Karl Marx uma vez chamou de “reserve army of labour” i.e. mão-de-obra desempregada
no país.
Uma possível solução ao problema acima apresentado seria a
elaboração de uma política industrial
selectiva[3],
atenção não se deve confundir com, por exemplo, o “Programa Executivo do Sector
da Industria Transformadora para o Período 2009-2012” cujo resultado parece não
estar disponível. Uma política industrial para além da articulação que exigi
com outras políticas (monetária, de comércio, etc.) permite essencialmente identificar o que vai ser feito, quando podemos
mesmo acrescentar por quem (i.e.
empreendedores nacionais sérios, investidores estrangeiros ou uma combinação de
ambos). Esse documento, política
industrial, países como a Coreia do Sul e Taiwan elaboraram e foi a fonte
do seu sucesso e hoje a África do Sul também decidiu elaborar e está neste
momento em execução enquanto Angola continua por fazer.
[1] http://fernandes-wanda.blogspot.com/2014/07/o-desenvolvimento-chines-e-oportunidade.html
[2] http://fernandes-wanda.blogspot.com/2015/01/desvalorizacao-da-moeda-mais.html
[3] A política industrial deve ser selectiva uma vez que não existe recursos
para dar suporte a todas indústrias, pelo que devemos dar apoio a aquelas que
se apresentam mais promissoras na geração de empregos e na capacidade de expansão
para o mercado externo (através da exportação dos seus produtos) gerando
divisas.
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