domingo, 26 de abril de 2015

“We must export or die” – Bismarck

Ao ler sobre a pretensão do governo angolano criar uma Agência Nacional de Promoção das Exportações[1], fez-me pensar nessa frase atribuída ao não menos famoso político Alemão do Séc. XIX Bismarck “We must export or die!” (traduzindo “Devemos exportar ou morrer!”).

A baixa do preço do petróleo de 115 USD em Junho 2014 (para o barril de Brent) para próximo dos 53 USD[2] fez com que a classe dirigente angolana percebesse que um país não pode, de forma sustentável, depender de uma só commodity para obtenção de divisas. Afinal, não basta apenas produzir para o mercado interno, através da substituição das importações pela produção local, mas também devemos pensar em criar fontes alternativas de obtenção de divisas.

Mas o que será que vamos exportar?
Muito recentemente ouvimos responsáveis do sector da Geologia e Minas a falarem de projectos que visam contribuir para a tão desejada diversificação da economia, através do aumento da exportação de diamantes e a possível exploração de outros minerais que o país possui.

Apesar de atractiva, essa alternativa também pode vir a não ser a solução dos nossos males (i.e. forte dependência do sector mineral). Afinal como já afirmamos em outros posts (ver por exemplo 1 de Março 2015) uma forte dependência no sector primário pode sempre causar problemas no terms of trade.

Há que produzir bens e serviços para se ter algo para exportar. Actualmente já existe a Associação de Empresas Exportadoras de Angola e das 27 empresas membro listadas no seu website podemos agrupa-las nos seguintes sectores:

Serviços financeiros: 4 empresas (tratam-se essencialmente de bancos)
Serviços Outros (incluindo turismo, imobiliário, transporte, comércio): 10 empresas

Indústria manufactureira: 6 empresas, das quais 3 do ramo de bebidas, 1 agro-industrial

Agricultura: 5 empresas das quais 4 ligadas ao sector de exploração da madeira e 1 a produção de hortofrutícolas.

Pescas: 2 empresas

Como se pode ver temos um grande caminho a percorrer. Por exemplo, temos 14 empresas no ramo de serviços que poderão não ser capazes de absorverem a grande oferta de mão-de-obra não qualificada que o país possui. No ramo agrícola estamos empenhados na exploração da madeira, pelo que poderíamos desenvolver uma indústria de produção de mobílias para o mercado local e exportação (desde que seja competitiva). Mas não podemos esquecer o facto de que tanto a exploração da madeira como a pesca precisam ser bem reguladas dado ao impacto ambiental. Das 3 empresas do ramo de bebidas, para exportação devemos contar essencialmente com duas (Cuca e Refriango) uma vez que a terceira é a Coca-Cola que já está presente em vários mercados. Vista desta forma podemos concluir que as nossas perspectivas não são tão animadoras.   

Contudo, segundo Jonathan Di John (SOAS, Universidade de Londres) países como Angola necessitam perceber que indústrias muitas das agora consideradas economias desenvolvidas desenvolveram quando tinham o seu nível de PIB per capita. Ele sugere igualmente que normalmente é mais simples desenvolver uma industria manufactureira ligeira do que uma mais pesada. Da análise feita a Associação de Empresas Exportadoras de Angola podemos ver que para além de bebidas o sector industrial é ainda bastante débil.

Há que se criar condições para que outras indústrias surjam bem como para que o país seja capaz de atrair (através da realocação) indústrias de outros países (ver por exemplo o nosso post de 29 de Julho 2014 onde apresentamos um caso interessante da China). Muito do que pode ser feito tem sido objecto da nossa análise nos vários posts neste blog. Independentemente do rumo que o país venha a seguir numa coisa podemos estar certo, “Devemos exportar ou morrer!”




[1] Fonte: J Expansão
[2] Fonte: WSJ

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