domingo, 1 de março de 2015

Os Caminhos da Transformação Estrutural em Angola: A Indústria Manufactureira (2)

No último post tratamos de elucidar a necessidade de Angola coordenar melhor os investimentos a serem feitos quer por nacionais como estrangeiros através de uma política industrial selectiva. Neste post vamos começar a reflectir sobre a importância do sector industrial manufactureiro.

Por que razão é que Angola deve desenvolver uma indústria manufactureira?

Agostinho Neto na sua célebre frase parece ter-nos dado já uma resposta a essa questão “A agricultura é a base do desenvolvimento e a indústria é o factor decisivo” (veja o nosso post de 10 de Julho 2014). Contudo, para os mais cépticos, podemos nos socorrer da história do desenvolvimento de muitos dos actuais países desenvolvidos, por exemplo, EUA, Japão, Reino Unido, mais recentemente, Coreia do Sul e Taiwan mas podemos também incluir o caso da Malásia, para ilustrar que tal foi possível graças ao rápido aumento da produtividade no sector agrário o que seguiu-se uma rápida industrialização.

Países excessivamente dependentes do sector primário, exemplo o sector agrário, precisam melhorar os seus “terms of trade” (i.e. termos de negociação) para poderem beneficiar do crescimento do comércio mundial cf. Singer (1950). Isto porque o sector agrário está sujeito ao que a literatura especializada trata por “dimishing returns”, isto é, sob uma certa tecnologia mesmo que se acrescente a força de trabalho o resultado não altera, exemplo: o que se pode produzir em 1 hectare de terra arável acaba por ser o mesmo se usarmos 100 ou 1000 pessoas (o que aumenta é a força de trabalho empregada).

As pesquisas indicam igualmente que a medida que os países vão se desenvolvendo o sector agrário acaba por contribuir menos em termos percentuais para o PIB e emprego cf. Banco Mundial (2007), fruto da chamada transformação estrutural (cf. o post de 1 de Janeiro 2015).

O mesmo parece não se verificar quando se analisa o sector industrial manufactureiro. Ai, as pesquisas indicam que acontece o contrário, ou seja, acontece o que a literatura especializada trata por “increasing returns”, isto é, economia de escala (quanto maior for a produção, através de um processo de eficiência operacional, o custo por unidade pode ser reduzido).

Por último, para o caso de Angola é sabido que existe uma forte dependência do sector mineiro em geral e muito particularmente do sector petrolífero. Como resultado a nossa economia está sujeita a choques externos, i.e. Angola não pode controlar os preços (e a demanda) nos mercados externos. O sector petrolífero não consegue absorver a grande quantidade de mão-de-obra disponível no mercado (muita da qual não qualificada). 

Resumindo: Se Angola quiser ter “increasing returns”, isto é, economia de escala vai ter que desenvolver o sector industrial manufactureiro. Vale aqui deixar, em jeito de conclusão, as 3 Regras do Desenvolvimento[1] propostas por Kaldor (1967):

(1)   Todos os países se desenvolvem e atingem altos níveis de rendimento per capita através da industrialização.

(2)   Na etapa inicial as indústrias nascentes desenvolvem-se através de uma certa protecção.

(3)   Quem dizer o contrário estará mentindo.

Por que razão Angola está com dificuldades de se industrializar?

Existem várias razões que poderíamos aqui apontar para a nosso ainda fraco sucesso neste capítulo. Vale aqui relembrar que esse problema não é um problema exclusivo de Angola. Trata-se de um problema comum em África e em particular na região austral, SADC, onde estamos inseridos.

Para o caso de Angola, as razões vão desde a ausência de um aumento da produtividade no sector agrário, passam pela falta de infra-estruturas básicas (acesso a electricidade, água, estradas) para a instalação de parques industriais, dificuldade no acesso ao financiamento, até a falta de recursos humanos qualificados capazes de sustentarem tais empreendimentos.

Notem que muito do que foi assinalado está sendo “resolvido” de uma ou de outra forma (criando Zonas Económicas Especiais, construção de estradas, Angola Investe, o plano de formação de quadros). Contudo, está evidente[2] que o resultado dos últimos 6 anos nos indica que essas “boas” acções, abre-se aqui um parenteses para chamar atenção que não estamos aqui para fazer um juízo de valor sobre a forma como muitas das acções mencionadas foram/estão sendo realizadas, correm o risco de não produzirem o(s) resultado(s) esperado(s) devido ao que resumidamente chamamos de falta de coordenação dos investimentos feitos através de uma política industrial selectiva.



[1] Tradução do autor.
[2] Segundo o Relatório de Fundamentação do OGE 2015 de 2009- 2014 a Industria Manufactureira contribuiu em média menos de 10% do PIB ficando a 9.95% (cálculos do autor), saindo de 5.3% do PIB em 2009 chegando a 8.1% em 2014.
 
 
 

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