quinta-feira, 2 de julho de 2015

Por que razão pensar que o auto-emprego vai resolver o problema do desemprego em Angola pode ser uma falácia.

Algum tempo atrás fiz uma apresentação académica sobre o realce exagerado que se estava a dar a promoção do auto-emprego como uma alternativa/solução a já preocupante falta de capacidade de criação de emprego no sector formal da nossa encomia que segundo estatísticas recentes[1] colocam o desemprego acima dos 25%.

Tendo Angola uma população relativamente jovem[2] é necessário percebermos que a criação de empregos capazes de garantir uma melhoria das condições sociais dos trabalhadores e consequentemente garantir uma certa estabilidade laboral (e social) deverá advir da nossa capacidade de criarmos uma indústria manufactureira forte.

No nosso post de 1 de Março 2015 explicamos que Agostinho Neto através da sua célebre frase “A agricultura é a base do desenvolvimento e a indústria é o factor decisivo” já nos havia deixado uma pista de como resolver o problema da criação de empregos sustentáveis. Nos socorremos de Kaldor (1967) para explicar que para Angola criar increasing returns”, isto é, economia de escala e melhorar os seus “terms of trade” (i.e. termos de negociação) deveria desenvolver o seu sector industrial manufactureiro.  

A 20 anos atrás o Banco Mundial através do seu relatório sobre o desenvolvimento mundial de 1995 com o título Workers in an Integrated World[3] indicou que o crescimento económico na Malásia e Polónia permitiu reduzir o auto-emprego, tido nesta perspectiva como uma actividade informal. Os dados mostram-nos que em 1957 a Malásia tinha 27% neste sector de actividade (i.e. auto-emprego) mas que em 1989 reduziu para 20%. A Polónia tinha 32% em 1955 reduziu para 23% em 1990. Por outro lado, o relatório assinala que houve um aumento de trabalhadores assalariados e incorporados no mercado formal de trabalho (na Malásia aumentou de 35% em 1957 para 42% em 1989 ao passo que na Polónia aumentou de 41% em 1955 para 52% em 1990).

Contudo, os dados que o relatório nos apresenta sobre o Gana dão-nos uma perspectiva completamente diferente. O auto-emprego aumentou de 58% em 1960 para 59% em 1989 ao passo que a percentagem de trabalhadores no sector formal da economia manteve-se nos 14% em ambos os períodos cf. WB[4] (1995:16).

Hoje podemos claramente ver em que posição, na economia mundial, cada um dos 3 países acima apresentados se encontra e nos perguntar: Será que em Angola vamos reinventar a roda?




[1] A taxa de desemprego em Angola é apresentada como estando a volta dos 26%, cf. African Economic Outlook disponível em http://www.africaneconomicoutlook.org/en/country-notes/southern-africa/angola/
[2] Segundo o Observatório Economico do Instituto de Fomento Empresarial de Angola, 46% da população angolana estão numa faixa etária abaixo dos 15 anos de idade.
[3] Tradução livre: Trabalhadores Num Mundo Integrado.
[4] WB (World Bank) é a sigla inglesa do Banco Mundial (BM)

Sem comentários:

Enviar um comentário