Existe uma
explicação na economia neoclássica para essa postura governamental. De uma
maneira simplista pensa-se que dando acesso a fonte de renda a poucos esses
poderão depois reinvestir tais rendas criando um efeito multiplicador na
economia, i.e., mais oportunidade de emprego no sector formal, maior oferta de
bens e serviços, colocando tais rendas nos bancos locais outros poderão
beneficiar de credito com juros mais aceitáveis, enfim, como se pode imaginar
podemos eventualmente ter uma melhoria na qualidade de vida da população em
geral. Como Adam Smith escreveu na
sua obra A Riqueza das Nações, “não
é da benevolência do açougueiro, do fabricante de cerveja ou do padeiro que
esperamos nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelo seu próprio
interesse”. Isto significa que tais agentes, beneficiários deste processo de
criação de uma classe empresarial angolana forte, iriam satisfazer seus
interesses e nesse processo dariam uma ajuda positiva na melhoria da qualidade
de vida da população.
Em Angola,
conforme explicamos no nosso post de 28
Outubro 2013, este processo de criação de uma
classe empresarial angolana forte está a sendo feito essencialmente através do que
Harvey (2005:116) chama de “accumulation by disposition” (acumulação por
expropriação) Samir Amin chamou de “acumulação da acumulação primitiva do
capital”, mas o habitual é hoje chamarmos de “ PRIVATIZAÇÃO”.
Existem algumas
“armadilhas” neste método. Primeiro precisa-se garantir que os beneficiários
sejam capazes de produzir o tal efeito multiplicador. E para o caso de Angola não
temos bons exemplos. Alguns beneficiários deste processo usam tais rendimentos
essencialmente para aquisição de bens de luxo, dentro mas maioritariamente fora
do país. Isto é, contrariamente ao que deles se espera muitos não têm sido
capazes de gerar a tão desejada riqueza (que poderia impulsionar ainda mais
outros sectores da economia) e acima de tudo não foram capazes de criar mais
empregos no sector formal da economia. Em suma, não foram capazes de tornarem
produtivos os bens privatizados em seu favor, só assim se explica o facto de
Angola ter sido em 2013 o ÚNICO país africano cujo investimento no estrangeiro
foi superior ao volume de Investimento Directo Estrangeiro recebido conforme o
nosso post de 28
de Setembro 2014.
Olhando para o
exemplo recente da Coreia do Sul e Taiwan, que parece ser o modelo eleito, podemos
afirmar que o processo de criação de uma classe empresarial nacional forte fez
com que esses dois países se desenvolvessem num curto espaço de tempo. Contudo,
tal processo passou pela identificação de uma classe por si só empreendedora, a partida, a quem foi
dada exclusividade em certos sectores da economia. Vale questionar o que fez
com que as coisas na Coreia do Sul, em Taiwan funcionassem e cá deixa-nos sérias
dúvidas? A “velha” máxima de stick and
carrots, i.e. pão e pau! Na Coreia do Sul e Taiwan o grupo restrito de beneficiários
teve todo o apoio governamental sob uma simples condição a saber: Os que não tivessem o desempenho esperado lhes
era retirado o privilégio. Pergunta: Será o governo em Angola capaz de assim
proceder? A história do processo de privatização dos anos 90 nos mostrou que
não!
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