Mostrar mensagens com a etiqueta industrialização. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta industrialização. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

O imperativo da diversificação económica em Angola: Mais palavras do que acções*

Já se passaram 3 anos desde que ocorreu a transição política no seio do partido da situação em Angola. Porém, os dados mostram que o Executivo do Presidente João Lourenço tem feito muito pouco para materializar o desiderato de diversificar a economia. O crescimento das exportações não minerais é fraco e continua ancorado aos produtos primários. Isso mostra que tínhamos razão defendemos a necessidade do Executivo levar a cabo um rápido processo de industrialização em Angola.

Os dados analisados mostram que o que o Executivo tem feito parece ser nada mais do que apresentar um conjunto de intenções, i.e., “não existem acções concretas que poderiam levar a um crescimento rápido da produção nacional” conforme indicamos no nosso texto de reflexão no jornal Expansão edição 593 de 25 Set. 2020.

Salta a vista o número cada vez maior de estudos feitos para o desenvolvimento de cadeias de produção nos mais variados sectores, sem que deles resultem acções concretas. Por exemplo, as 3 principais fábricas têxteis, reabilitadas no período pós-guerra, continuam paralisadas deixando de gerar riqueza e empregos principalmente para a juventude.



*Este tema foi desenvolvido na nossa coluna ‘Milagre ou Miragem’ no Expansão edição 593, 25 Set. 2020

 

sábado, 11 de maio de 2019

Que indústria é esta?


Ao lermos no Jornal de Angola um título dizendo “Indústria nacional ‘está no caminho certo’” nas palavras do Ministro de Estado e do Desenvolvimento Económico, não poderíamos deixar de nos perguntar, de que indústria estarão a falar??
O Indicador de Clima Económico (ICE), que reflecte as expectativas dos agentes económicos produzido pelo I.N.E., mostra que desde o 1º Trimestre de 2009 a produção actual tem sido abaixo da perspectiva, isto é, os agentes económicos indicam que não têm sido capazes de atingirem as suas metas de produção. ICE indica que os empresários do sector apontam a falta de matéria-prima devido a dificuldades financeiras, falta de água e energia eléctrica. Como consequência a perspectiva de emprego tem vindo a degradar-se desde 2011. Das 167.330 empresas em actividades em 2017, cf. dados do Anuário de Estatística das Empresas 2014-2017 do I.N.E., apenas 6%, i.e. 2.963 empresas, pertencem ao sector da indústria transformadora comparadas com 49% ao sector do comércio.
Se quem produz hoje reclama da falta de condições básicas como água e energia eléctrica, como é que o Executivo pode desejar aumentar o número de unidades de produção? A solução, como indicamos num outro texto passa sim, por uma adequada infra-estruturação dos pólos industriais de Viana e Catumbela, e um incentivo a deslocação de unidades fabris existentes, e facilitação da instalação de futuros investimentos, para a Zona Económica Especial (pensando já na exportação) poderia contribuir para redução dos custos de produção dos agentes económicos.  
Por isso, numa outra publicação, dissemos que a “Industria Transformadora em Angola está Longe de ser o ‘Factor Decisivo” (Link abaixo).


quarta-feira, 10 de abril de 2019

O que nos falta para traçarmos os caminhos de um futuro promissor para Angola?*


A África tem hoje 54 países. Claro que não podemos falar do continente como se de um país se tratasse. Temos que analisar e contar 54 estórias diferentes. No continente países como a Etiópia e de certa forma o Ruanda estão na linha da frente na implementação de uma Política Industrial, para além da África do Sul, o país mais industrializado a sul do Saara. Como resultado a Etiópia, por exemplo, é a economia que mais cresce em África, tendo de 2005 – 2016 crescido em média 10.5% do PIB e com projeções para um crescimento positivo perto dos 8% por ano. Já Angola, pelo contrário, vive uma recessão há 3 anos consecutivos sem que se possa vislumbrar uma saída credível.     

Á luz do que foi acima apresentado, acreditamos nós que a pergunta a ser feita deve ser, como sugerimos, “o que nos falta para traçarmos os caminhos de um futuro promissor para ANGOLA?” A resposta a esta questão temos vindo, neste espaço, regularmente a apresentar S.A.I.D.A. i.e. Sugestões e Análise de Informação sobre o Desenvolvimento de Angola. Por exemplo, num dos nossos textos indicamos que Angola não pode depender da importação de produtos para alimentar a sua população, que cresce 3% ao ano, e sustentar a sua indústria transformadora emergente. Como explicar que 90% da produção agrícola em Angola provem da agricultura de sequeiro e que o investimento feito em perímetros irrigados e em fazendas de larga escala até ao momento não produziu os resultados desejados? Alguma coisa não está correcta e este problema requer a devida atenção.

Não é surpresa que no País, segundo dados do I.N.E., 67% dos desempregados deixou de procurar emprego, apesar de hoje os jovens estarem melhor qualificados. Realmente é caso para o Executivo angolano refletir e interrogar-se, como foi feito e muito bem pelo Presidente João Lourenço em Abu Dhabi, “em que falhamos”?  




*Adaptado de:
   Wanda, F. (2018) ‘Angola está numa encruzilhada! Expansão, Edição 504, 21 Dez. http://www.expansao.co.ao/artigo/107645/angola-  esta-numa-encruzilhada-?seccao=7  

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Angola está numa encruzilhada!*


Apesar do discurso político em Angola apregoar um certo pragmatismo na definição de uma estratégia para o desenvolvimento do país, as acções práticas têm vindo a se revelar bastante enraizadas numa ideologia neoliberal, diga-se mesmo anistórica e irrealista[1], em que deseja-se para o Estado, numa economia em transição, um mero papel de ‘coordenador e regulador’ da actividade económica. Tal visão contrasta com o resultado obtido em outras realidades como, por ex., a de Singapura, país que ocupa o 3º lugar no Índice de Competitividade Global 2017 – 2018. Em Singapura 90% das terras do país são propriedade do Estado; 85% das casas são propriedade do Estado; e 22% do PIB é produzido por empresas públicas[2]! Este e outros exemplos, como nos explicam especialistas como Ha-Joo Chang, mostra que havendo disciplina e uma componente de condicionalidade com cláusulas explícitas de penalização para os gestores públicos em caso de incumprimento das metas definidas, as empresas públicas podem tornar-se tão rentáveis como qualquer projecto privado. Por que não em Angola?


As associações empresariais pedem que o Executivo regularize as suas dívidas junto dos seus filiados. Os industriais angolanos indicam a falta de matéria-prima, falta de água e energia eléctrica como os principais problemas. Pelo que, (1) regularizar a dívida e assegurar que a despesa pública, i.e. contratação de bens e serviços, contribua igualmente para redução das importações, devem merecer a atenção do Estado em 2019; (2) uma melhor rentabilização dos perímetros irrigados existentes em Angola poderia contribuir para produção local de matéria-prima e redução da importação de produtos alimentares; (3) dotar os pólos industriais, por ex.: de Viana e Catumbela, de infra-estruturas adequadas bem como facilitar a instalação de futuros investimentos na Zona Económica Especial (pensando já na exportação) poderiam permitir aos investidores produzirem com um custo mais competitivo. Sim, Angola está mesmo numa encruzilhada.

A ausência de acções pragmáticas visando a rápida industrialização de Angola é também agravada pela introdução de outros produtos primários, para além do petróleo e diamantes, como a banana, café, rochas ornamentais, madeira como solução para o problema da diversificação das exportações conforme preconizado pelo Executivo através do PRODESI. Adoptar uma postura semelhante a de países como a Etiópia[1], i.e., atrair investidores (nacionais e estrangeiros) interessados em tirar o maior proveito possível de programas como o AGOAAfrica Growth Opportunity Act dos E.U.A. e a possibilidade que a União Europeia dá aos países de rendimento baixo de exportarem com isenções para a zona Euro tudo excepto armas, isso antes de Angola ser adversamente graduada em 2021 pela ONU em país de rendimento médio ancorado no petróleo,  mostra-se necessário.

A solução requer uma missão, vontade política e exige disciplina uma sinergia entre o sector público e as associações empresariais nacionais envolvendo as instituições de ensino e pesquisa. Enfim, hoje mais do que nunca seria talvez conveniente resgatar algumas das velhas palavras de ordem como, disciplina e produção. Afinal, Angola está numa encruzilhada!

*Versão anterior publicada em:
Wanda, F. (2018) ‘Angola está numa encruzilhada! Expansão, Edição 504, 21 Dez. http://www.expansao.co.ao/artigo/107645/angola-esta-numa-encruzilhada-?seccao=7  

[1] Wanda, F. (2018) Fútila em Angola versus Adama na Etiópia: Um ineficiente Estado dificilmente leva o sector privado à prosperidade.Expansão, Edição 502, 7 Dez.

[1] Wanda, F. (2017) 'Solução da crise económica angolana? Disciplina, disciplina, disciplina!', Expansão, Edição 421, 12 Maio.
[2] Economista Ha-Joo Chang  numa entrevista no jornal El País, Jan. 2018.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Angola e Portugal: O que nos dizem os números desta relação*

Apesar de Angola e Portugal manterem uma relação histórica, muitas são as vezes que ouvimos os políticos, tanto de lá como de cá, a darem indicações que um pode muito bem passar sem o outro. Neste espaço vamos hoje reflectir sobre os números desta relação tendo como pano de fundo a primeira visita oficial do Presidente João Lourenço à Portugal.    

No discurso proferido durante a cerimónia de investidura, João Lourenço indicou que “Angola dará primazia a importantes parceiros, tais como os Estados Unidos da América, a República Popular da China, a Federação Russa, a República Federativa do Brasil, a Índia, o Japão, a Alemanha, a Espanha, a França, a Itália, o Reino Unido, a Coreia do Sul” excluindo desta lista Portugal por razões já conhecidas. Apesar de este mau estar político ainda assim, as relações económicas de uma forma geral não deixaram de ser significativas como abaixo descrevemos.

Segundo dados do Banco Nacional de Angola no período de 2003 à 2014 Portugal foi o principal país de procedência das importações angolanas. Em 2003 as importações foram estimadas em USD 816.2 milhões e em 2014 atingiram a cifra mais alta USD 4.374.8 milhões. O relatório consultado indica que em 2015 Portugal foi superado pela China porém recuperou esta posição em 2016 e manteve em 2017. No que toca aos investimentos, dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento indicam que entre 2001 e 2012 Portugal foi o principal destino dos investimentos directos de angolanos.

No nosso mais recente estudo[1] sobre as tendências do investimento directo privado estrangeiro em Angola assinalamos que de 2003-2013 Portugal foi o país que mais teve projectos de investimentos aprovados pela antiga ANIP. De facto, os nossos dados actualizados indicam que até 2014 haviam sido aprovados 1.449 projectos de Portugal contra, por exemplo, 294 da China. Estes números indicam que contrariamente a atenção mediática dada, por exemplo, a presença chinesa em África e muito particularmente em Angola, o investimento directo privado chinês em Angola não é tão expressivo como o de Portugal.

O INE-Portugal[2] indica que no período entre 2011-2014 Angola foi o 4º maior país de destino das exportações portuguesas, passando para o 6º em 2015 e o 8º em 2016. Portugal está igualmente a importar cada vez menos petróleo de Angola. De facto, em 2015 Angola foi apenas o 9º fornecedor e em 2016 o 12º fornecedor. Esta queda deveria representar para o Executivo angolano uma oportunidade que precisa ser melhor aproveitada.

Apesar de ter havido uma redução no saldo das trocas comerciais entre 2015 e 2016, Portugal manteve em 2016, segundos os dados do INE-Portugal, um excedente comercial de 692 milhões de Euros. Angola continuava a ser o principal mercado (em termos do grau de exposição das empresas face aos principais mercados), para muitas empresas portuguesas. Por exemplo, em 2016 38.9% das empresas que exportaram para Angola fizeram-no exclusivamente para este mercado. Estas empresas exportaram essencialmente máquinas e aparelhos, produtos químicos e alimentares. Das 5.811 empresas cuja cifra de exportação em 2016 ficou estimada em 1. 461 milhões de Euros, 2.258 empresas com cifra estimada em 448 milhões de Euros exportaram exclusivamente para o mercado nacional.

Com a nova Lei do Investimento Privado e caso se proceda a infra-estruturação dos pólos industriais em funcionamento no país bem como se dinamize a Zona Económica Especial, o Executivo poderá negociar com algumas dessas 2.258 empresas que já produzem e exportam exclusivamente para o mercado nacional, a deslocação das suas operações para Angola. Acreditamos serem estes três aspectos, i.e. (1) necessidade de Portugal aumentar a compra de petróleo a partir de Angola e (2) em contrapartida Angola manter o nível de compras, aos quais juntamos (3) a necessidade do Executivo gizar um plano estruturado visando facilitar a deslocação de empresas, que deveriam merecer uma atenção primordial nesse relançar das relações entre Angola e Portugal.

Enfim, na parceria Angola e Portugal, entendemos que compete a parte angolana criar condições que permitam investimentos que possam depois gerar empregos, incorporar o conteúdo local e facilitar a transferência de conhecimentos e tecnologia. Porém, o Executivo precisa antes de tudo analisar e compreender os números desta relação.




[1] Wanda, Fernandes (2017) “Understanding Post-War Foreign Direct Investment in Angola: South-South led or the West Still Rules?” J. of Southern African Studies, 43 (5).
[2] INE Portugal Estatística do Comércio Internacional 2016.

Inicialmente publicado como:

 Wanda, F. (2018) ‘Angola e Portugal: O que nos dizem os números desta relação’ Expansão, Edição 500, 23 Nov.  http://www.expansao.co.ao/artigo/106130/angola-e-portugal-o-que-nos-dizem-os-n-meros-desta-relacao?seccao=7

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

A diversificação Económica em Angola segundo o PRODESI


Fazendo uma análise crítica do Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição de Importações (PRODESI), vemos que para os proponentes deste programa, tendo em conta os produtos identificados como prioritários para a exportação[1], diversificar passa por exportar outros produtos para além do petróleo e diamante sem contudo, alterar a estrutura produtiva do país. Daí que pretendesse que Angola produza e exporte também banana, café, rochas ornamentais, madeira, o que é bom. Mas Angola precisa é de uma verdadeira transformação estrutural i.e. deixar de essencialmente exportar bens primários. Mais sobre as nossas reflexões sobre este tema pode ser encontrado aqui:

Wanda, F. (2018) ‘A diversificação da economia em Angola requer uma missão… e não uma solução!’ Expansão, Edição 498, 9 Nov. http://www.expansao.co.ao/artigo/104991/a-diversificacao-da-economia-em-angola-requer-uma-missao-e-nao-uma-solucao-?seccao=7

Wanda, F. (2018) ‘Então, o que o Executivo em Angola entende por diversificação?’ Expansão, Edição 496, 26 Out. http://www.expansao.co.ao/artigo/104875/entao-o-que-o-executivo-em-angola-entende-por-diversificacao-?seccao=7

Wanda, F. (2018) ‘A Industria Transformadora em Angola está Longe de ser o ‘Factor Decisivo’ Expansão, Edição 490, 14 Set.http://www.expansao.co.ao/artigo/102324/a-ind-stria-transformadora-em-angola-esta-longe-de-ser-o-factor-decisivo?seccao=7


[1] Ver pág. 35-39

sábado, 13 de outubro de 2018

Ensino Superior: O Mestrado é moda ou necessidade em Angola?


Ao ouvirmos hoje, 13 de Outubro 2018, um programa sobre o Ensino Superior na Rádio Mais Luanda não conseguimos deixar de ficar perplexos quando um dos convidados indicou que ‘hoje em Angola fazer mestrado é moda’. Apesar de concordarmos com parte do que foi dito, especialmente sobre a qualidade do ensino, em nosso entender, considerar como ‘moda’ perde de vista o facto de faltar em Angola uma melhor articulação entre o sistema de ensino e o mercado de trabalho.

Havendo um programa/uma política de fomento do primeiro emprego[1] e de enquadramento dos recém-licenciados a nível do mercado de trabalho, abria-se para estes uma segunda opção i.e. os estudantes recém-licenciados poderiam ter a possibilidade de obterem uma experiência prática no mercado de trabalho. O Estado poderia conceder incentivos, de vária índole, mas que preferencialmente sejam atribuídos ex-post as empresas que estabeleçam parcerias com as instituições do ensino superior públicas e/ou privadas. De contrário, os estudantes acabam por apostar numa formação pós-graduada a nível essencialmente do mestrado e em muitos casos do doutoramento.

Se olharmos para outros contextos, compreendemos que este fenómeno não é específico/exclusivo de Angola. Hoje a nível da Europa, falamos de Portugal, Espanha, Reino Unido, na ausência de oportunidade de inserção no mercado de trabalho logo após a licenciatura, muitos estudantes optam igualmente para uma formação pós-graduada, evitando assim o desemprego involuntário, bem como assegurando que os novos conhecimentos e habilidades venham ajudar a manter os seus níveis de empregabilidade.

Tradicionalmente a formação a nível do mestrado e doutoramento está associada a docência no ensino superior. Hoje as circunstâncias são outras. Para se ter acesso ao emprego em algumas especialidades e em muitas organizações internacionais, por exemplo, nas organizações ligadas ao sistema das Nações Unidas, é exigido a pessoa que se candidata uma formação superior à Licenciatura, normalmente exigem como nível mínimo o mestrado. Esta é uma realidade da qual Angola e os jovens angolanos não poderão fugir.

Se olharmos para o mercado de trabalho angolano podemos dizer que, com base nas nossas pesquisas recentes[2], quando se estava a executar o programa de reconstrução nacional, o Executivo angolano não soube tirar o máximo do proveito deste exercício, para proporcionar acesso ao mercado de trabalho e a corresponde experiência prática aos quadros técnicos angolanos. Hoje, muitos dos poucos postos de trabalhos que estão a ser criados exigem como qualificação mínima a Licenciatura.

A ausência de uma aposta séria no processo de transformação estrutural impulsionado por uma política industrial que vise aumentar a produtividade no sector agrícola e um plano de industrialização sério, faz com que o Executivo em Angola não consiga disponibilizar mais postos de trabalhos para os técnicos experientes e recém-formados e muito menos para os Licenciados. Não é por acaso que num outro texto[3], indicamos que apesar da contínua aposta na formação, a oferta de postos de trabalho em Angola era cada vez mais reduzida. Como resultado, segundo Relatório Sobre Emprego publicado pelo INE em Setembro de 2017, Angola tem uma taxa de desemprego de 20% entre a população com 15 – 64 anos, chegando aos 38% entre os jovens dos 15 – 24 anos. Esta realidade faz com que, ainda segundo o relatório do INE, 67% dos jovens desempregados desistam de procurar empregos.

Enfim, podemos dizer que optar por uma formação avançada a nível do mestrado em Angola, pelas razões que acabamos de apresentar, e em outros países pelas razões igualmente específicas de cada contexto, acaba por ser uma estratégia que o jovem recém-licenciado e sem perspectiva de emprego útil encontra para não ser absorvido pelo sector informal da economia. Mudar este prisma passa necessariamente pela adopção de uma política industrial por parte do Executivo, que vise dinamizar o processo de transformação estrutural através da indústria transformadora.    



[1] É importante realçar que a política do 1º emprego também deve ser extensiva aos técnicos recém-formados.
[2] Wanda, F. (In press) “Business and the State: A Verdade por Detrás da Industrialização de Angola no Período Colonial e Lições para o Presente”. Revista Socioeconomicus; Wanda, F. and Oya, C. (2016) “Um Estudo sobre as Empresas Industriais e de Construção e as Dinâmicas de Emprego em África”, Revista Socioeconomicus Nº 3, Edição Especial, Outubro 2016, p. 287-297.
[3] Wanda, F. (2018) ‘Quando a oferta não cria a sua própria demanda’ Edição 476, 8 June. http://www.expansao.co.ao/artigo/96338/quando-a-oferta-nao-cria-a-sua-propria-demanda?seccao=7

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

A Natureza Não Salta Etapas!*


Neste espaço indicamos que o Executivo em Angola precisava fazer um sprint[1] para tentar recuperar o tempo perdido. Todavia, é importante relembrar que tal não significa que se deva saltar etapas. Na recente reunião da Comissão Económica do Conselho de Ministros abordou-se, dentre outros aspectos, o processo de graduação de Angola, pelas Nações Unidas, de país de rendimento baixo para país de rendimento médio. Apesar de estarmos conscientes que este processo representaria um enorme ganho político para o Executivo é imperioso não se esquecer que uma graduação prematura e insustentável poderia acarretar consequências sérias para o desenvolvimento harmonioso de Angola.

Existem benefícios atribuídos aos países de rendimento baixo como Angola[2], por exemplo, ao nível do acesso ao crédito concessional, i.e. com condições de reembolso mais favorável, cedido por instituições financeiras internacionais. Nesta fase em que o Executivo angolano parece apostado em fomentar as exportações não petrolíferas, podemos avançar aqui a possibilidade que a União Europeia dá aos países de rendimento baixo de exportarem, com isenções, para a zona Euro tudo excepto armas. Angola perderá este beneficio tão logo passe para país de média renda. Como país de renda baixa Angola faz parte do conjunto de países com a possibilidade de aceder ao mercado Norte-Americano em condições bastantes favoráveis, no âmbito do projecto AGOA – Africa Growth Opportunity Act. Apesar destes dois programas representarem uma excelente oportunidade para Angola dinamizar as suas exportações fora do petróleo, a verdade é que ao longo desses 16 anos de paz o Executivo não foi capaz de articular uma estratégia sustentável que permitisse o país tirar alguma vantagem.

A recente apresentação dos resultados do Inquérito de Indicadores Múltiplos e de Saúde (IIMS 2015-2016) pelo Instituto Nacional de Estatística (INE)[3] deveria servir para o Executivo angolano consciencializar-se de que Angola é verdadeiramente, ainda, um País de baixo rendimento2. Todavia, é importante esclarecer o que se quis dizer com o facto de parte da população (48%) em Angola vive em “pobreza multidimensional” conforme veiculado por um jornal. Hoje nos estudos sobre a pobreza extrema recomendasse a não utilizar como indicador principal o rendimento do indivíduo (ou do agregado familiar), ao invés adoptar-se vários indicadores, resultando numa visão multidimensional da pobreza. Isso porque os pesquisadores notaram que adoptando o rendimento como indicador principal, i.e. dizer que o indivíduo que vive com um valor inferior à 1 ou 2 dólares por dia i.e. está abaixo da linha da pobreza extrema, faz crer que quem tiver um rendimento superior a este valor está fora dessa condição. Daí a recomendação de olhar-se também para outros indicadores como acesso a água potável, mortalidade infantil, nutrição, ano de escolaridade, saneamento e medirmos o status da privação.

Dos resultados principais deste inquérito salta a vista o facto de 3 em cada 10 agregados familiares não terem instalações sanitárias (WCs) apropriadas. O que pode explicar a falta de sanidade do meio e as consequências para saúde pública. Notamos com bastante interesse que 82% de agregados familiares rurais possuem terra para agricultura. Pensamos que aqui é possível o Executivo desenvolver programas de ajuda a essas famílias por formas a tornarem mais produtivas essas terras. Tal ajuda iria contribuir para se reduzir a malnutrição crónica nos agregados familiares, um mal que afecta 38% das crianças menores de 5 anos em Angola.

Não deixa de ser preocupante notar que Angola apresenta uma alta taxa de fecundidade (6,2 filhos por mulher), o que pressupõe a necessidade de rapidamente se implementar uma política de controlo do crescimento da população. Isso para que se possa atender as necessidades presentes e futuras da população. A idade mediana da 1ª relação sexual (16,6 anos para as Mulheres e 16,7 Homens) e do 1º parto 19,5 (i.e. 3 anos depois da 1ª relação sexual) ilustram essa necessidade. Acreditamos que aos 16 anos um jovem adolescente em Angola não tenha acesso a toda a informação necessária para ter um sexo seguro, o que pode facilitar o risco da propagação de doenças sexualmente transmissíveis.

Enfim, se por um lado compreendemos que uma graduação de Angola de país de baixa renda para média daria ao Executivo chefiado pelo Presidente João Lourenço uma certa credibilidade e segurança, porém intentar tal graduação sem (1) tirar o máximo de proveito da condição de país de baixa renda e (2) melhorar os principais resultados apresentados no mais recente Inquérito de Indicadores Múltiplos e de Saúde, seria, em nosso entender desastroso. Pelo que, continuamos a defender que o Executivo deve tratar de fazer bem as coisas básicas i.e. alavancar o sector produtivo, e tudo o resto, graduação e possível entrada para o grupo de países emergentes, vai depois se encaixar. Afinal, a natureza não salta etapas! 


*Publicado inicialmente como: Wanda, F. (2018) ‘A Natureza Não Salta Etapas!’ Expansão, Edição 486, 17 Ag. http://www.expansao.co.ao/artigo/100080/a-natureza-nao-salta-etapas-?seccao=7


[1] Wanda, F. (2018) ‘África precisa de ‘correr’, já o Executivo em Angola tem que encetar um sprint! Expansão, Edição 468, 13 Abril.
[2] Excluindo o PIB petrolífero.
[3] Numa parceria com o Ministério da Saúde (MINSA) e o Ministério do Planeamento e do Desenvolvimento Territorial (MPDT).

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Faça algo diferente!*


Recentemente realizou-se na África do Sul mais uma cimeira dos países emergentes chamados, desde 2011, na sigla inglesa de BRICS - Brasil, Rússia, Índia, China e o país anfitrião a África do Sul. Muito se passou desde que em 2001 o Goldman Sachs[1] juntou um grupo de países, que na altura estavam a ter um crescimento assinalável, criando desta forma os BRICs (sem a África do Sul). Mais tarde estes convidaram para o grupo a África do Sul, o que conferiu de certa forma a sua legitimidade como porta-voz dos países em desenvolvimento e contrapeso dos países ricos.  

Para a cimeira de Joanesburgo Angola foi convidada também por ser o País que preside, de momento, o Órgão de Cooperação Política, Defesa e Segurança da SADC, fazendo-se representar pelo Chefe do Executivo o Presidente João Lourenço. Vale recordar que já em 2013 na cimeira de Durban, África do Sul, Angola esteve igualmente presente.

Nesta cimeira, João Lourenço assinalou dois aspectos de interesse sendo (1) a vontade de um dia Angola juntar-se ao grupo e (2) a sua crença “que na actual conjuntura da globalização e das tecnologias da informação e comunicação, os nossos países poderão saltar etapas, encurtando desta forma o caminho do progresso e do desenvolvimento”. Ora bem, é importante compreendermos que qualquer processo evolutivo obedece certas fases i.e. a natureza não salta etapas, todavia, a evidência empírica mostra que a globalização dá acesso a exemplos a seguir, cabe depois aos países empreenderem acções pragmáticas visando a sua rápida industrialização, materializando-se essa visão do Presidente João Lourenço num espaço de tempo reduzido.

Não é por acaso que cada País dos BRICS possui um parque industrial e tecnológico expressivo para sua condição de País emergente. Tal só foi possível graças a intervenção selectiva do Estado. Por exemplo o Brasil para além de ter uma agro-indústria forte, criou a Embraer e com ela quebrou um segmento dominado pelas mais experientes e financeiramente mais bem dotadas Boeing e Airbus. A Índia no ramo automóvel tem marcas como a Mahindra comercializada em quase todo mundo incluindo Angola. A Rússia, herdeira do império Soviético, tem na indústria de defesa e aerospacial um sector tecnologicamente bem desenvolvido. A África do Sul é simplesmente a economia mais industrializada a sul do Saara. Angola só tem a ganhar se souber gerir melhor o seu relacionamento histórico com cada um deles.

Sobre a necessidade dos países africanos tirarem um melhor proveito desta aproximação com os BRICS, o ex-Economista Chefe do Banco Mundial o chinês Justin Lin, assinalou a alguns anos que devido a necessidade da China diminuir a sua dependência dos mercados externos dinamizando o consumo interno, haveria uma pressão para se aumentar os salários. Desta forma seriam libertados cerca de 80 milhões de empregos no sector da indústria manufactureira[2] que havendo condições poderiam deslocar-se para África.

Países como o Vietname e Mianmar, dada a proximidade e tendo criado políticas específicas, já estão a receber algumas dessas empresas. Através das nossas pesquisas[3] identificamos que um País africano que tem sabido tirar proveito desta situação é a Etiópia. Ao contrário do Executivo em Angola, que construiu pólos de desenvolvimento industrial i.e. Viana e Catumbela sem estarem devidamente infraestruturados e perímetros irrigados improdutivos, o Governo Etíope, através de um processo de ensaio e erro, tem estado a promover parques industriais de qualidade assinalável. O mais recente Hawassa é já considerado um exemplo, prevê gerar cerca de USD 1,000 milhões/ano em receitas e empregos para 60.000 jovens Etíopes[4]. Através de um processo selectivo de intervenção e uma dose de pragmatismo a Etiópia é hoje uma das economias que mais cresce no mundo. De 2005-2016 o seu PIB cresceu em média 10.5%.

Um outro País que está a trilhar o mesmo caminho é o Ruanda. De facto, no nosso mais recente trabalho de campo foi-nos facilitada uma visita a Zona Economica Especial de Kigali e podemos ver in loco os desenvolvimentos já alcançados.

Enfim, não basta o Chefe do Executivo mostrar vontade é necessário assegurar que ela seja transformada em políticas e traduzidas depois em acções concretas. Todavia, como temos assinalado nas nossas reflexões neste espaço, na ânsia de marcar uma nova etapa no desenvolvimento de Angola o Executivo denota uma certa crise existencial. Independentemente da estratégia a adoptar é imperioso que se compreenda que fazer mais do mesmo e ainda assim esperar um resultado diferente leva-nos a lugar nenhum!

*Publicado anteriormente: Wanda, F. (2018) ‘Faça algo diferente!’ Expansão, Edição 484, 3 Ag. http://www.expansao.co.ao/artigo/98959/faca-algo-diferente-?seccao=7.


[1] Goldman Sachs (2001) ‘Building Better Global Economic BRICs’. Global Economics Paper, Nov. 30.
[2] Citado pela Bloomberg (22/07/2014)
[3] F. Wanda, & C. Oya (2016) “Um Estudo sobre as Empresas Industriais e de Construção e as Dinâmicas de Emprego em África”, Revista Socioeconomicus Nº 3 (FEC-UAN).
[4] M. Schwikowski (2017) ‘Ethiopia: East Africa's new economic power’.

domingo, 8 de julho de 2018

Quando a oferta não cria a sua própria demanda*


A conhecida Lei de Say indica-nos que ‘a oferta cria a sua própria demanda’. Todavia, a realidade prática muitas vezes apresenta-nos situações onde podemos ver que a teoria não se ajusta a realidade (i.e. devido as chamadas falhas de mercado). Tal parece ser o caso do sector da educação (com especial referência ao ensino superior) em África, de um modo geral, onde registasse um nível de instrução superior ao registado em períodos anteriores, nomeadamente após as independências, mas ainda assim as taxas de desemprego continuam altas[1]. Para o caso de Angola apesar do aumento do número de estudantes matriculados, de 13. 861 em 2002 para 286.000 em 2016 e registar-se um aumento de instituições de ensino superior, o desemprego ainda é uma preocupação especialmente desde 2015, período em que verificou-se um acentuado arrefecimento da economia. Este texto vem complementar algumas das ideias apresentadas num outro texto[2], analisando desta feita as razões da ausência de demanda para a oferta de uma mão-de-obra cada vez mais instruída.

Hoje parece ser inegável que em Angola assistimos uma situação de desemprego persistente. Apesar do Relatório Sobre Emprego publicado pelo INE em Setembro de 2017 indicar uma taxa de desemprego de 20% entre a população com 15 – 64 anos, este mesmo relatório também indica que o desemprego chega aos 38% entre os jovens dos 15 – 24 anos altura em que muitos terminam o ensino superior. Essa situação é agravada, ainda mais, com o aumento anual da oferta de graduados, por parte das instituições do ensino superior, sem que haja uma alteração a nível da demanda.

De facto, o Boletim Estatístico do Ensino Superior de 2016 indica, por um lado, que em 2015 foram colocados no mercado 12.395 graduados aumentando para 14.735 em 2016. Por outro lado, o Anuário de Estatísticas das Empresas do INE referente ao período de 2013 – 2016, indica que das 152.359 empresas registadas em 2016 estavam em actividade apenas 46.096 empresas. É importante notar que dessas empresas em actividade 50.3% pertencem ao sector do comércio, que como se sabe em Angola é muito dependente da importação o que produz uma pressão nas reservas internacionais líquidas. O sector da indústria transformadora, aquele capaz de gerar uma economia de escala e facilitar as interligações sectoriais, apesar dos investimentos feitos a nível dos polos de desenvolvimento industriais, ainda representa cerca de 5.5%. Estes dados ilustram bem a necessidade do Executivo adoptar políticas pragmáticas capazes de inverterem este quadro.

O desemprego persistente acaba por ser, como nos sugere Delong (2012) no longo prazo, um impedimento para a recuperação económica de um País. Para o caso de Angola é frequente ouvirmos os empregadores reclamarem da qualidade dos candidatos ao emprego. Um estudante recém-graduado que não encontra inserção no mercado de trabalho corre o risco, a medida que o tempo passa, de ver as suas habilidades e competências adquiridas ao longo do seu período de formação tonarem-se obsoletas sem que delas o País e o próprio indivíduo tenham tirado proveito. Esta situação pode obrigar a um reinvestimento na formação deste individuo ou, na ausência de incentivos, levar ao recrutamento de mão-de-obra expatriada. Infelizmente, este problema não tem merecido a devida atenção do Executivo.

O facto do sector da indústria transformadora, que comporta subsectores intensivos em mão de obra, representar apenas 5.5% das empresas em actividade serve para ilustrar o nosso argumento de que não se tem feito chegar recursos a aqueles segmentos e produtores que poderiam rapidamente gerar um efeito multiplicativo[3]. Como consequência, o fraco desempenho que a economia angolana registou nos últimos dois anos[4], dados recentes do INE indicam um desempenho negativo de -2,6% em 2016 e -2,1% em 2017 i.e. duas recessões, não gerou demanda suficiente para absorver a oferta de mão-de-obra graduada (i.e. com licenciatura concluída) disponível no mercado, com o agravante do Executivo apresentar soluções que, até prova em contrário, têm-se mostrado demasiado complexas para serem implementadas nos prazos avançados. Esta realidade faz com que, segundo o INE, 67% dos jovens desempregados desistam de procurar empregos.

Para se quebrar este ciclo que parece estar a tornar-se vicioso urge, por exemplo, compreender e resolver os constrangimentos que impedem as empresas registadas de darem início a sua actividade. No período em análise este número passou de 59.056 empresas em 2013 para 104.088 em 2016. Analisando particularmente o sector da indústria transformadora notasse que em 2013 aguardavam início 3.568 empresas e em 2016 este número passou para 5.197 empresas caso que deveria merecer a devida atenção dos órgãos competentes, a nível do Executivo, dada a especificidade deste sector num processo de transformação estrutural.

Enfim, se por um lado é importante que se aposte na formação da mão-de-obra em Angola, também não é menos importante tratar de se criar condições para que haja demanda para a oferta existente. O facto de mais de metade das empresas em actividade em 2016 pertencer ao sector do comércio mostra que o mercado, por si só, não vai corrigir essa falha. Pelo que, o Executivo, no seu ‘novo’ papel de regulador e coordenador, deve corrigir este mal. Afinal, como indicamos num outro texto[5], é imperioso que o Chefe do Executivo compreenda que o sucesso de Angola não pode estar dependente da flutuação ascendente do preço do petróleo nos mercados internacionais mas sim, de objectivos realistas e atingíveis no espaço de tempo definido.

*Publicado inicialmente no Jornal Expansão: Wanda, F. (2018) ‘Quando a oferta não cria a sua própria demanda’ Edição 476, 8 Junho. http://www.expansao.co.ao/artigo/96338/quando-a-oferta-nao-cria-a-sua-propria-demanda?seccao=7


[1] Wanda, F. (2017) “Se África Está no ‘Ponto de Inflexão’, O Que Será da Juventude em Angola: Ameaça ou Força para o Desenvolvimento? – Analise”, Novo Jornal (online).
[2] Wanda, F. (2018) ‘Emprego, juventude e desemprego: Será 2018 diferente?’ Expansão, Edição 454, 5 Janeiro.
[3] Wanda, F. (2017) 'Papel do BNA em tempo de crise - Convidado', Expansão, Edição 419 28 Abril.
[4] Podendo continuar até 2021.
[5] Wanda, F. (2018) ‘África precisa de ‘correr’, já o Executivo em Angola tem que encetar um sprint! Expansão, Edição 468, 13 Abril.