Recentemente realizou-se na África do Sul mais uma
cimeira dos países emergentes chamados, desde 2011, na sigla inglesa de BRICS -
Brasil, Rússia, Índia, China e o país anfitrião a África do
Sul. Muito se passou desde que em 2001 o Goldman Sachs[1]
juntou um grupo de países, que na altura estavam a ter um crescimento
assinalável, criando desta forma os BRICs (sem a África do Sul). Mais tarde
estes convidaram para o grupo a África do Sul, o que conferiu de certa forma a sua
legitimidade como porta-voz dos países em desenvolvimento e contrapeso dos
países ricos.
Para a cimeira de Joanesburgo Angola foi convidada também
por ser o País que preside, de momento, o Órgão de Cooperação Política, Defesa
e Segurança da SADC, fazendo-se representar pelo Chefe do Executivo o
Presidente João Lourenço. Vale recordar que já em 2013 na cimeira de Durban,
África do Sul, Angola esteve igualmente presente.
Nesta cimeira, João Lourenço assinalou dois aspectos
de interesse sendo (1) a vontade de um dia Angola juntar-se ao grupo e (2) a sua
crença “que na actual conjuntura da globalização e das tecnologias da
informação e comunicação, os nossos países poderão saltar etapas, encurtando
desta forma o caminho do progresso e do desenvolvimento”. Ora bem, é importante
compreendermos que qualquer processo evolutivo obedece certas fases i.e. a
natureza não salta etapas, todavia, a evidência empírica mostra que a globalização
dá acesso a exemplos a seguir, cabe depois aos países empreenderem acções pragmáticas
visando a sua rápida industrialização, materializando-se essa visão do Presidente
João Lourenço num espaço de tempo reduzido.
Não é por acaso que cada País dos BRICS possui um
parque industrial e tecnológico expressivo para sua condição de País emergente.
Tal só foi possível graças a intervenção selectiva do Estado. Por exemplo o
Brasil para além de ter uma agro-indústria forte, criou a Embraer e com ela
quebrou um segmento dominado pelas mais experientes e financeiramente mais bem
dotadas Boeing e Airbus. A Índia no ramo automóvel tem marcas como a Mahindra
comercializada em quase todo mundo incluindo Angola. A Rússia, herdeira do
império Soviético, tem na indústria de defesa e aerospacial um sector
tecnologicamente bem desenvolvido. A África do Sul é simplesmente a economia
mais industrializada a sul do Saara. Angola só tem a ganhar se souber gerir
melhor o seu relacionamento histórico com cada um deles.
Sobre a necessidade dos países africanos tirarem um
melhor proveito desta aproximação com os BRICS, o ex-Economista Chefe do Banco
Mundial o chinês Justin Lin, assinalou a alguns anos que devido a necessidade da
China diminuir a sua dependência dos mercados externos dinamizando o consumo
interno, haveria uma pressão para se aumentar os salários. Desta forma seriam
libertados cerca de 80 milhões de empregos no sector da indústria manufactureira[2]
que havendo condições poderiam deslocar-se para África.
Países como o Vietname e Mianmar, dada a proximidade
e tendo criado políticas específicas, já estão a receber algumas dessas
empresas. Através das nossas pesquisas[3]
identificamos que um País africano que tem sabido tirar proveito desta situação
é a Etiópia. Ao contrário do Executivo em Angola, que construiu pólos de
desenvolvimento industrial i.e. Viana e Catumbela sem estarem devidamente
infraestruturados e perímetros irrigados improdutivos, o Governo Etíope,
através de um processo de ensaio e erro, tem estado a promover parques
industriais de qualidade assinalável. O mais recente Hawassa é já considerado
um exemplo, prevê gerar cerca de USD 1,000 milhões/ano em receitas e empregos
para 60.000 jovens Etíopes[4]. Através
de um processo selectivo de intervenção e uma dose de pragmatismo a Etiópia é
hoje uma das economias que mais cresce no mundo. De 2005-2016 o seu PIB cresceu
em média 10.5%.
Um outro País que está a trilhar o mesmo caminho é o
Ruanda. De facto, no nosso mais recente trabalho de campo foi-nos facilitada
uma visita a Zona Economica Especial de Kigali e podemos ver in loco os desenvolvimentos já
alcançados.
Enfim, não basta o Chefe do Executivo mostrar
vontade é necessário assegurar que ela seja transformada em políticas e traduzidas
depois em acções concretas. Todavia, como temos assinalado nas nossas reflexões
neste espaço, na ânsia de marcar uma nova etapa no desenvolvimento de Angola o
Executivo denota uma certa crise existencial. Independentemente da estratégia a
adoptar é imperioso que se compreenda que fazer mais do mesmo e ainda assim
esperar um resultado diferente leva-nos a lugar nenhum!
*Publicado anteriormente: Wanda, F. (2018)
‘Faça algo diferente!’ Expansão, Edição 484, 3 Ag. http://www.expansao.co.ao/artigo/98959/faca-algo-diferente-?seccao=7.
[3] F. Wanda, & C. Oya (2016) “Um Estudo
sobre as Empresas Industriais e de Construção e as Dinâmicas de Emprego em
África”, Revista Socioeconomicus Nº 3 (FEC-UAN).
Sem comentários:
Enviar um comentário