Alguns
de nós crescemos a ouvir o slogan “A agricultura é a base e a indústria o
factor decisivo”. Tendo sido recentemente realizada a cimeira de chefes de
estado / governo africanos em que este assunto foi um dos temas principais, urge
reflectirmos um pouco sobre o mesmo tendo como pano de fundo a nossa realidade
angolana.
Começamos
por relembrar o que nos disse uma vez Jonathan Di John (Professor na SOAS,
Universidade de Londres) que a história do desenvolvimento dos agora países
desenvolvidos nos ensina que os mesmos atingiram este estágio por duas vias: 1º
houve um aumento da productividade agrícola – uma espécie de revolução agrária,
e 2º desenvolveram a indústria transformadora. Caso ainda haja dúvidas podemos
citar o caso mais recente dos países asiáticos em que destacamos a Coreia do
Sul e Taiwan, China e mais recentemente o Vietname (como exemplo de país que nos
dias de hoje está a enveredar pelo mesmo caminho).
A
luz desses exemplos urge perguntar “Porque razão, passados mais de 10 anos de
paz a nossa luz no fundo do túnel parece um tanto quanto pálida?” Tentei buscar
possíveis respostas para justificar a nossa letargia, a saber: 1º tivemos e
ainda estamos a resolver os problemas das minas terrestre fruto do longo
conflito armado; 2º estamos a criar infraestruturas de apoio como estradas,
pontes e canais de irrigação; 3º já criamos alguns institutos agrários – para
termos os nossos recursos humanos devidamente qualificados. No que toca a indústria
estamos a criar as Zonas Económicas Especiais (ZEE).
Apesar
de ter conseguido arranjar “desculpas”, pessoalmente não estou de todo
convencido que se tudo isso estiver arrumado, a situação vai ser diferente pelo
seguinte: Não existe um relatório actualizado que nos possa informar o que está
sendo feito com os terrenos já desminados. Sei que Angola utiliza apenas 5,7% dos
hectares disponíveis (de um total que acredito incluir os que ainda estejam
minados, ver o meu post de 21 de Julho
de 2013 neste blog). No que toca a
infraestruturas, a grande questão que se têm colocado é a qualidade das mesmas
(e a sua durabilidade), o que deixa-nos algumas reservas se tivermos em conta o
custo VS benefício dessas obras. Estamos todos conscientes da ausência de um plano bem estruturado com
vista a garantir aos recém-formados (nos institutos criados) uma rápida
inserção no mercado de trabalho. Por último tomamos conhecimento, recentemente,
que a administração de ZEE (Luanda-Bengo) estava a procurar atrair parceiros
(investidores nacionais e estrangeiros) para os detentores de espaços (i.e.
terrenos) naquela área. Apesar de uma notícia bastante interessante, não
deixamos de ficar incrédulos uma vez que sabiamos que as pessoas interessadas
só poderiam ter acesso a esses terrenos (que serão infraestruturados) caso
tivessem UM PROJECTO INDUSTRIAL.
Como
se pode compreender desta constatação, para que o nosso grande slogan “A agricultura
é a base e a indústria o factor decisivo” tome corpo vai ser preciso algo mais
do que remover minas terrestre, construir pontes e dar formação. Vamos ter que
mudar de mentalidade, sair da chamada mentalidade “rent-seeking” (i.e. busca de rendimento fácil e/ou facilitado) para
uma mais produtiva e empreendedora dando acesso a recursos e
bens, a quem deles venha realmente a fazer uso
multiplicador (gerando empregos, riqueza e pagando impostos).
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