quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Os Caminhos da Transformação Estrutural em Angola: Agricultura (1)

Um dos conceitos mais usado no âmbito do que se entende hoje por desenvolvimento economico é o que se entende por transformação estrutural. Por transformação estrutural entenda-se grosso modo um processo que ocorre numa economia dualista com dois sectores indústria vs agricultura, onde o sector industrial é visto como um sector mis productivo e o agrícola como o menos. Assim sendo, neste contexto o desenvolvimento económico ocorre quando a força de trabalho (e a alocação de recursos) saí do sector de actividade menos productivo (i.e. da agricultura) e vai para o de maior productividade (i.e. indústria).

Existem vários problemas com este tipo de visão dualista. Vamos nesta breve reflexão abordar algumas das implicações.

Nesta visão subentende-se que o sector agrícola é menos productivo que o sector industrial e como tal a ele deve ser dada menos atenção. Todavia, se olharmos para a história do desenvolvimento dos agora países desenvolvidos podemos ver que o desenvolvimento industrial só foi possível graças a um aumento de productividade no sector agrícola. Isso significa que países como o Reino Unido, EUA, Alemanha, rercentemente o Japão, Coreia do Sul, Taiwan conseguiram se desenvolver industrialmente porque o sector agrário nesses países conseguiu atingir niveis altos de productividade. Em suma, podemos afirmar que sem uma agricultura desenvolvida e bastante productiva estes países (citados) não seriam capazes de criar uma indústria forte. Apresentado desta forma o papel do sector agrícola no desenvolvimento industrial dos agora países desenvolvidos não pode ser negligenciado.

Para o caso de Angola fala-se muito da necessidade de se diversificar a economia, especialmente numa altura em que o preço do petróleo bruto nos mercados internacionais parece estar em queda. Contudo, pouco se fala das medidas a serem adoptadas para que possamos começar a aumentar a productividade do nosso sector agrícola. Fala-se da necessidade do país se (re)industrializar mas parece que queremos ser o único país a fazer isso sem agricultura! Em suma: não é possível falar-se em transformação estrutural em Angola pensando apenas na movimentação de recursos de um sector menos productivo (i.e. agricultura) para outro de maior productividade. Para o caso de Angola e tendo em conta a história do desenvolvimento em outros paises, é importante percebermos que a nossa transformação estrutural terá que passar necessariamente pelo aumento da productividade no sector agrícola e a partir daí termos as bases para uma rápida (re)industrialização.