sábado, 14 de maio de 2016

OPORTUNIDADE DE COLABORAÇÃO NUM PROJECTO DE PESQUISA INTERNACIONAL

No âmbito do projecto de pesquisa “EMPRESAS CHINESAS E AS DINÂMICAS DE EMPREGO EM AFRICA: UMA ANÁLISE COMPARADA” que está a ser realizado entre a Faculdade de Economia da Universidade Agostinho Neto  (FECUAN) e a SOAS, Universidade de Londres, apresentamos oportunidades de RECRUTAMENTO para Inquiridores e Supervisores de Campo.

 
Se você é uma pessoal fiável, com excelentes capacidades de comunicação, com boas aptidões para compreender um questionário e capaz de usar um tablet, se você tem uma mente aberta e vontade de aprender com forte dedicação, se você tem disponibilidade para trabalhar fora de Luanda por um curto espaço de tempo, então não hesite e envie o seu CV para: fernandes.wanda@fecuan.ed.ao 
 
@ interessad@ deve indicar no e-mail a posição para qual se candidata. Note que apenas as pessoas selecionadas serão contactadas e irão beneficiar de uma curta formação. O trabalho será remunerado.

 
Esperamos por si!

 
OBS: Não é necessário ser estudante universitário (ou da FECUAN) para candidatar-se.

domingo, 1 de maio de 2016

Será que dinamizar a economia de consumo é a melhor opção para Angola nesta fase?

Ao lermos numa publicação que o actual Governador do Banco Central (o BNA) parece ter pretensão de tornar o sistema financeiro em Angola em algo capaz de financiar o consumo das famílias achamos tal proposição interessante mas ao mesmo tempo preocupante, pelo que, neste post vamos tratar de analisar este tema.

É bem verdade que o consumo gera produção (interna ou externa via importação). Para o caso de Angola, um país em transição da guerra para paz, muito do consumo que se verificou no período pós-guerra foi satisfeito essencialmente via importação o que num período de crise que se vive hoje devido a queda do preço nos mercado internacionais da nossa principal commodity i.e. o petróleo, precisa ser evitado se quisermos evitar problemas na balança de pagamentos. Pelo que lemos nessa publicação o consumo seria dinamizado via crédito i.e. endividamento das famílias. Vale aqui perguntar se essas mesmas famílias estariam depois em condições de reembolsarem esse crédito.

A desvalorização da moeda necessária para impulsionar a produção interna (e a consequente substituição das importações e possível expansão para mercados externos via exportação) trouxe consigo um aumento da inflação e perca do poder de compra da classe trabalhadora. Facilitar o acesso ao crédito para o consumo nestas condições é, em nosso entender, via segura para uma crise idêntica a do subprime[1]americano. De facto, para o caso de Angola, existem relatos de que o crédito mal parado parece ser já um problema para muitas instituições financeiras no nosso mercado.

Analisando a história do desenvolvimento recente de países como a Coreia do Sul e a China, notamos que nestes países, na sua primeira fase de desenvolvimento, envidou-se esforços no sentido de se aumentar as poupanças, desencorajando o consumo. Isso parece-nos bastante importante para o caso de Angola que vale perguntar por que razão isso aconteceu? A resposta simples foi que estes países deram conta que para financiarem o sector productivo precisavam mobilizar recursos (externos através do investimento directo e internos via poupanças). Existem relatos de que na Coreia do Sul as pessoas eram encorajadas a não viajarem para o exterior do país de férias por formas a ajudarem a poupar divisas que serviam depois para a importação de inputs para o sector productivo.

O caso da China, por ser mais recente, é muito mais evidente. Neste momento verifica-se uma mudança de focos saindo da exportação (atenção virada ao mercado externo) para um incentivo ao aumento do consumo. Isso porque a China já percebeu que nesta que chamaríamos segunda fase do seu desenvolvimento para poder continuar a crescer de forma sustentável e controlável não pode depender das exportações (como acontecia até então) uma vez que isso deixava o país vulnerável a choques externos, por exemplo: havendo uma redução na procura em países como os EUA e na União Europeia os chineses sentiriam enormes dificuldades de escoar a sua produção. Pensou-se que a África poderia ser um mercado alternativo, mas a queda dos preços das commodities nos mercados internacionais mostrou claramente que não! Tendo como focos o mercado interno e devido ao seu elevado índice populacional, a China, através do consumo, poderá continuar a crescer. Notem que para que essa transformação ser possível, teve que haver um aumento dos salários o que fez com que algumas indústrias se deslocassem para outras partes do mundo (ver blog de 29 de Julho 2014).

Contrariamente ao caso chinês, Angola está numa fase primária do seu desenvolvimento. O alto preço das commodities (com particular realce do petróleo) nos mercados internacionais deu uma falsa ideia ao Executivo de que tudo ia bem por cá, até o preço cair como caiu. Se tivermos em conta o relatório do BNA sobre a situação creditícia em Angola (ver blog de 13 de Dezembro 2015) onde fica claro que o sector dos serviços foi o que mais atenção recebeu, podemos compreender que o sector productivo em Angola ainda carece de enormes investimentos.

Assim sendo, respondendo a pergunta do nosso título, pensamos que para Angola, nesta fase do seu desenvolvimento, ao invés de ‘dinamizar a economia do consumo’ dever-se-ia prestar atenção ao sector productivo canalizando recursos (i.e. crédito) a ele. Um aumento na produção interna de bens (e serviços) com focos na exportação ajudaria a manter equilibrada a balança de pagamentos (uma vez que a produção interna necessita de inputs do exterior). Um sector productivo robusto (e a exportar) permitiria pensar em aumentar o salário real o que proporcionaria as famílias o tão desejado aumento do consumo, desta feita via salário ao invés de terem acesso facilitado ao crédito mas com um salário real fraco.  



[1] Ver explicação https://pt.wikipedia.org/wiki/Crise_do_subprime