terça-feira, 18 de abril de 2017

A Dívida do Estado e o Desempenho das Empresas

Temos estado a ouvir muitas reclamações de empresários nacionais sobre a forma dura que o Executivo angolano, através da AGT – Administração Geral Tributária afecta ao Ministério das Finanças, está a cobrar os impostos devidos. Dizem os empresários que o Estado é o maior devedor e não paga o que deve a tempo. Contudo, exige o pagamento atempado dos impostos! Dada a gravidade da situação, dedicamos este post a uma pequena reflexão sobre o assunto dando algumas pistas na busca de soluções.

Estado consumidor
O facto de os empresários estarem de mãos atadas perante este impasse mostra mais uma vez que em Angola não existe um mercado de consumo sustentável fora do Estado, i.e., o estado é ainda o maior consumidor e como tal o motor da economia. Por quê é isso acontece? Sendo Angola um país em transição (guerra para paz) o poder económico por razões históricas ficou centralizado no Estado. Existe a necessidade de se mudar esse quadro através, normalmente, do fomento da actividade empresarial privada. Havendo este fomento as empresas que hoje têm 80% – 90% do seu negócio com o Estado poderão traçar estratégias de redução passando a prestar bens e serviços para outras empresas e famílias. É importante esclarecer que o problema essencial está na produção de bens e serviços e não no facto da empresa do sector produtivo ser estatal ou privada. Por outras palavras o problema de Angola é tratar de produzir o que consome!
Em resumo: numa economia em transição é natural o Estado ser o maior consumidor. Contudo, cabe também a esse mesmo Estado gizar um programa com metas bem definidas onde se possa realizar uma mudança faseada para o aumento do consumo por parte do sector empresarial privado e famílias. Isso só é possível e sustentável aumentando a base produtiva da economia.

Consumo familiar
Para que as famílias tenham um aumento do seu consumo é necessário que elas tenham igualmente um aumento do seu rendimento. Infelizmente este não tem sido o caso para a maior parte da população em Angola uma vez que o poder de compra do salário diminui cada vez mais devido a inflação e desvalorização monetária. Daí a política do hard Kwanza (i.e. kwanza sobrevalorizado).
Uma política de (sobre)valorização do Kwanza contribuiu para o aumento do consumo das famílias mas pode, por norma, prejudicar a produção local de bens e serviços já que permitiria a importação dos mesmos a partir do exterior a um preço normalmente mais competitivo do que é oferecido no mercado local. Contudo, vale aqui explicar que essa importação só é possível havendo disponibilidade de divisas o que não é o caso de Angola nesta fase. Por outras palavras neste momento em Angola as necessidades de consumo não podem ser facilmente satisfeitas via importação devido as restrições cambiais (acesso aos dólares). Outra solução passa então pela redução da inflação, caracterizada pelo aumento dos preços devido a um aumento da procura e redução da oferta. Para tal existe a necessidade de se aumentar a oferta, i.e. aumentar a produção local de bens e serviços. Tal aumento implica um maior investimento no sector produtivo tirando vantagens das melhorias feitas nas infra-estruturas básicas (agua, luz, estradas) e acesso ao financiamento (crédito).

Estado devedor: O impasse…
Angola está perante um ciclo indecoroso onde o Estado não paga os bens e serviços que consome porque não recebe dos impostos que cobra o dinheiro suficiente para cobrir as suas despesas. As empresas não pagam mais impostos porque estão endividadas fruto da falta de pagamento do Estado. A solução passa por identificar aquelas empresas que actualmente não pagam impostos e cobrar, identificar as empresas que pagam menos do que deviam pagar e igualmente cobrar. No que toca as despesas, o Estado em Angola é conhecido por esbanjar recursos. Em tempos de crise devesse aumentar o rigor e qualidade das despesas bem como investir em actividades que garantam um maior retorno do capital.

O Estado tem que reduzir a sua dívida perante o empresariado local. Se houver a necessidade de reduzir e/ou anular alguns impostos (ou reduzir o valor a cobrar), conforme sugerido por alguns empresários, que tal redução seja condicionada a resultados a saber: empregos, aumento dos volumes de produção que permitam a substituição das importações e receitas através da exportação. Em nosso entender para um melhor controlo deste tipo de incentivo, o mesmo só seria atribuído após apresentação dos resultados previamente acordados, i.e. primeiro os empresários teriam que mostrar que criaram os empregos prometidos, que aumentaram o volume de produção (cabendo ao Executivo accionar os mecanismos para proporcional redução das importações) e avançaram para exportação dos excedentes (cabendo igualmente ao Executivo dar suporte a tal intenção).


Enfim, o problema de Angola como já argumentamos antes, ex.: 14 de Julho de 2016, passa, por um lado, pela execução de uma política de expansão da base produtiva. Por outro lado se taxation is the state (traduzindo: os impostos fazem o Estado) aumentando a base produtiva aumentasse os valores dos impostos a arrecadar pelo Estado. Contudo, como qualquer consumidor, o Estado tem que pagar o que deve!

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