quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O Sistema de Habilidades na Aprendizagem de Línguas por Estudantes de Economia e Gestão: O Caso da Disciplina de Língua Inglesa na Faculdade de Economia da UAN

Resumo
Esta reflexão visa ilustrar o sistema de habilidades que a disciplina de língua Inglesa na Faculdade de Economia da UAN procura proporcionar aos estudantes por formas a responder as novas exigências do ensino superior. Vários aspectos são apresentados e abordados, numa perspectiva que se espera simples, objectiva e desapaixonada.
Palavras-chave: Empreendedorismo, habilidades, comunicação

Introdução

É dado certo que o conhecimento de línguas nos possibilita ter acesso ao acervo cientifico-cultural dos povos que delas fazem uso, especialmente através da leitura (cf. Wanda, 2001).
No contexto em que nos encontramos inseridos, não é difícil notar-se que ter um conhecimento de línguas estrangeiras, nomeadamente da língua francesa e inglesa, é também um factor preponderante para uma rápida inserção no mercado de trabalho. Isto por si só pensamos nós, justifica que instituições do ensino superior fomentem o ensino e a aprendizagem dessas mesmas línguas, até porque se chega mesmo a questionar o papel que essas instituições desempenham, quando quadros por si formados não conseguem ter acesso ao mercado de trabalho.
Nesta reflexão, vamos começar por apresentar os desafios, missão e função do ensino superior, a luz a Declaração da UNESCO de 1998, de seguida iremos apresentar a fundamentação e o sistema de habilidade da nossa disciplina (no caso a disciplina de Língua Inglesa) no contexto da nossa instituição (no nosso caso a Faculdade de Economia da UAN). Finalizaremos com a apresentação de considerações gerais sobre os assuntos anteriormente abordados.

Secção 1. A Universidade Hoje: Os grandes desafios e a missão do ensino superior

É um dado certo que um dos grandes desafios do ensino superior, enquanto subsistema de ensino em Angola, é adopção de um posicionamento que lhe permita ser o “motor” da inovação (considerando inovação o rompimento que as novas ideias devem ter com os padrões anteriores para serem consideradas inovadoras) e fonte de conhecimento para o desenvolvimento local.

De acordo com a Declaração da UNESCO de 1998, os grandes desafios do ensino superior hoje, acabam por ser essencialmente os seguintes:
  • A formação apoiada em competências (relação universidade/mercado do trabalho).
  • A pertinência dos Planos de Estudos (adequação entre o que se requer no mundo trabalhista e a sociedade, incluindo o respeito as culturas e meio ambiente).
  • Ampliar as possibilidades de emprego dos diplomados.

A Declaração de 1998 apresenta-nos igualmente como missão e função do ensino superior:
  • Formar Licenciados altamente qualificados.
  • Constituir um espaço aberto para a formação superior que propicie a aprendizagem permanente.
  • Formar cidadãos que participem activamente na sociedade.
  • Preservar e exigir a ética e o rigor científico e intelectual.

Hoje espera-se igualmente que um jovem universitário adquira ao longo da sua formação certas habilidades profissionais consideradas de universais, a saber:
      Trabalho em equipa.
      Capacidade de comunicação e colaboração.
      Administração de recursos
      Liderança.
      Pensamento criativo e capacidade de dar solução a problemas

É com base nos preceitos acima apresentados e dentro da reforma curricular levada acabo pela Universidade Agostinho Neto, que a Faculdade de Economia introduziu as disciplinas de Francês e Inglês, como línguas estrangeiras agregadas ao Departamento de Ciências Sociais, no plano curricular do primeiro semestre do 2º Ano (diurno e nocturno) e dentro delas incorporou-se noções de empreendedorismo.

Para continuar a ser uma instituição competitiva, pensamos nós, que a Universidade Agostinho Neto no geral e em particular para que a sua Faculdade de Economia possa atingir a sua meta de “ocupar um posicionamento estratégico na formação de economistas e gestores para o desenvolvimento da economia nacional” conforme nos sugere Sebastião (2005:1), deveria igualmente incutir nos seus estudantes um espírito inovador (para que possam durante e depois da sua formação criar/explorar as novas oportunidades de negócios que se vislumbram a medida que Angola abre a sua economia para o mundo), dotando-lhes de ferramentas que lhes possa permitir tirar o maior proveito possível da informação disponibilizada e colocada ao seu alcance.

Com a finalidade de se começar a dar resposta a esta situação, apresentaremos nesta reflexão a experiência que tem sido levada acabo na nossa instituição e dentro do contexto de ensino de línguas estrangeiras.

Secção 2. A nossa experiência: Fundamentação da Disciplina de Língua Inglesa

A disciplina de Língua Inglesa na Faculdade de Economia da Universidade Agostinho Neto contribui na formação de um futuro Economista ou Gestor que possuindo noções básicas da Língua Inglesa pretenda consolidar esses conhecimentos tanto ao nível da expressão oral como da expressão escrita, nomeadamente no âmbito da comunicação empresarial, através de um ensino/aprendizagem numa perspectiva accional (cf. Da Costa, 2010).

Como tem-se verificado nos nossos dias, a Língua Inglesa acaba por ser uma das principais fontes de acesso ao saber, logo é importante promover o desenvolvimento de competências gerais e específicas nos domínios dos conhecimentos, das capacidades e das atitudes / valores para que os estudantes adquiram gradativamente uma crescente autonomia no processo de aprendizagem.

Objectivos instrutivos
Sendo uma disciplina leccionada apenas num único semestre, espera-se que no final deste período os estudantes sejam capazes de satisfazer as suas necessidades básicas de sobrevivência, requisitos mínimos de cortesias sociais, bem como alguns requisitos de trabalho (de forma limitada). Para além disso, também pretende-se primordialmente que os mesmos adquiram competências essenciais ao uso da Língua Inglesa - Ouvir; Falar; Ler; Escrever; - e que numa atitude de crescente autonomia saibam utilizar os instrumentos de trabalho que têm à sua disposição como livros, dicionários, gramáticas, ou o computador.

Sendo a Língua Inglesa a mais utilizada na comunicação internacional, tem-se também como objectivo principal que os estudantes a saibam utilizar tanto no contexto empresarial como em caso de lazer e/ou turismo.

Sistema de habilidades
Vamos aqui de forma resumida apresentar algumas das habilidades que se espera que os estudantes venham a adquirir:

*       Elaborar um Cartão-de-visita, solicitar e fornecer informações de carácter pessoal (Identidade), expressões sociais.
*       Analisar e escrever um Curriculum Vitae.
*       Escrever uma carta de candidatura de emprego.
*       Analisar algumas Estratégias a utilizar em entrevistas de emprego.
*       Descrever um escritório bem como identificar a localização de objectos/lugares.
*       Identificar e avaliar oportunidades de pequenos negócios.
*       Discutir métodos para se executar uma pequena pesquisa de mercado.
*       Planificar e identificar os custos iniciais de um projecto de negócio.
*       Apresentar os resultados de um projecto de negócio.

De seguida apresentaremos algumas considerações cujo o objectivo visa ilustrar até que ponto as habilidades identificadas vão ou não de encontro com os já apresentados desafios, a missão e as habilidades universais que se espera hoje que os jovens estudantes universitários venham adquirir.

Considerações gerais

Alguns dos temas abordados no nosso contexto de ensino, por exemplo "Recruitment Part 1 e 2" (tradução livre: Recrutamento Parte 1 e 2) em que são aprendidas dentre outras coisas análise de um Curriculum Vitae, técnicas de elaboração de um CV e estratégias a aplicar em entrevistas de emprego, visam dar resposta aos desafios do ensino superior já mencionados anteriormente.

Outros exemplos de temas introduzidos que passamos a citar "Starting Your Own Business", "Market Needs", "Financing Your Own Business", "Marketing Your Business" (tradução livre: Começar o seu próprio negócio, Necessidades de Mercado, Financiar o seu próprio negócio) em que se procura dar resposta a alguns dos pontos apresentados na missão e função do ensino superior hoje, a saber "formar cidadãos que participem activamente na sociedade" uma vez que os mesmos têm que elaborar um projecto de um pequeno negócio o que visa desenvolver neles as habilidades ligadas ao empreendedorismo (criação de empresas que poderão gerar empregos a outros membros da sociedade).

Para além do que já foi exposto, neste projecto os estudantes também têm a necessidade de aplicar conhecimentos adquiridos em outras disciplinas (tanto do 1° ano, como do 2°, a saber Contabilidade Geral, Estatística Descritiva, Introdução a Gestão), o que serve para os mesmos percebam a integração e aplicação prática de tais conhecimentos na resolução de problemas colocados em outros contextos.

Vale salientar o facto de que as aulas desenvolvem-se essencialmente numa perspectiva teórico-prática student-centred approach (tradução livre: perspectiva virada ao estudante), virado sempre para as necessidades específicas dos estudantes, bem como o(s) contexto(s) em que a língua será usada por eles. Fazemos uso preferencial do task-based approach (tradução livre: perspectiva virada a actividade), através do qual os estudantes têm que realizar múltiplas tarefas. Esta metodologia visa permitir aos estudantes que adquirem algumas das habilidades universais apresentadas anteriormente (a saber: trabalhar em grupo, capacidade de comunicação e colaboração, dentre outras).

Tais habilidades acabam por ser mais enfatizadas com a incorporação das chamadas tecnologias de comunicação e informação no nosso processo de ensino (para mais detalhes sobre como este processo é operacionalizado no nosso contexto, veja Wanda, 2010) o que garante uma certa gestão do conhecimento a adquirir, uma vez por esta via os estudantes têm a possibilidade de entre si e com o docente:

*       Partilhar informação (neste caso os estudantes são encorajados a enviar qualquer informação que possam ter acesso e que seja do interesse geral).
*       Participar no esclarecimento de questões colocadas por outros estudantes (nota-se que o docente em alguns casos limita-se a monitorar a qualidade dos esclarecimentos e faz correcções sempre que for necessário).
É sabido que a motivação e consequentemente a falta dela, influência grandemente o processo de aquisição de uma língua e não só (cf. Ellis, 1986,1997). O facto de os estudantes terem nas aulas de língua Inglesa a oportunidade de adquirirem habilidades que poderão utilizar nas suas vidas profissionais, tem feito com que a sua motivação e participação nesta disciplina aumente grandemente, o que por sua vez tem estado a resultar num Índice de aproveitamento bastante positivo.


Referências bibliográficas

1.     Da Costa, P. (2010). Regards sur la perspective actionnelle. Disponível na WWW.: http://www.edufle.net/Regards-sur-la-perspective, acedido 13 Jan. 2011

  1. Ellis, R. (1986). Understanding Second Language Acquisition. Oxford. (OUP)
  2. Ellis, R. (1997). The Study of Second Language Acquisition. Oxford.
  3. Sebastião, Luvumbu (2005). Mudança, Qualidade e Desenvolvimento.
  4. UNESCO (1998). Declaracion Mundial Sobre la Educacion Superior en el Siglo XXI: Vision Y Accion.
  5. Wanda, Fernandes (2010). “Como maximizar a comunicação educativa docente-estudante através das TICs: O caso da Faculdade de Economia da UAN”. Apresentado no 7º Congresso Internacional de Educação Superior (Universidad 2010), Havana – Cuba e publicada online no Jornal Cézame, Nº 13 – Novembro 2009
  6. Wanda, Fernandes D. (2001). Suggesting Techniques to Help Students Develop Effective Reading Strategies in a Foreign Language. Tese de Licenciatura, Instituto Superior de Ciências de Educação - Luanda, Universidade Agostinho Neto.
Sobre o Autor:
Fernandes Wanda é docente na Faculdade de Economia da Universidade Agostinho Neto desde 2004. Ele é graduado em Linguística e Ensino de Língua Inglesa (UAN), pós-graduado e Mestre em Direcção de Operações, Qualidade e Inovação pelo Centro de Estudios de Postgrado de Administración de Empresas da Universidad Politécnica de Madrid, pós-graduado em Liderança e Gestão (Educação) e também um Hubert Humphrey Fellow Alumni pela The Pennsylvania State University (Pensilvânia, EUA).
O Fernandes Wanda é membro da TESOL, membro fundador da ANELTA (Associação Angolana de Professores de Língua Inglesa) onde é convidado frequentemente a ministrar workshops nas suas conferências internacionais e da AEFA (Associação Angolana de Bolseiros Fulbright).