terça-feira, 8 de abril de 2014

“Receitas não petrofileras aumentaram 34%” mais uma evidência da resiliência do estado em Angola?


 As receitas fiscais não petrolíferas registaram um aumento na ordem dos 34%, passando de Kz 467 mil milhões em 2012 para Kz 625 mil milhões em 2013. Para este ano, a Direcção Nacional de Impostos prevê um crescimento de 42%” fonte: Jornal o País, Abril 2014.

A mobilização de recursos através da colecta de impostos representa um sério desafio a qualquer governo num país em transição (cf. Di John, 2006). Num contexto, como o angolano, onde se argumenta existir o que a literatura denomina de rent seeking e um sistema neopatrimonial onde existe igualmente a possibilidade de se obter rendas através da comercialização de recursos minerais (como diamante e petróleo), conseguir-se receitas através da colecta de impostos de outros sectores pode muito bem ser visto como uma amostra de resiliência do estado e contribui muito para a consolidação do próprio estado.

É necessário percebermos que é essencialmente por meio de impostos que o estado obtem os recursos financeiros de que necessita para levar acabo muitos dos seus programas de melhoria da condição de vida das populações e que para podermos exigir serviços sociais com alguma qualidade todos temos de contribuir com os nossos impostos (de rendimento de trabalho essencialmente). Contudo, para o caso de Angola ainda temos ouvido/lido que várias são as empresas (e pessoas individuais) que não pagam os seus respectivos impostos.

Apesar de ser uma boa notícia, uma vez indicar que o governo parece estar a ser capaz de mobilizar recursos de outros sectores que não o da indústria extractiva (petróleo e minerais) e que de certa forma deita por terra muito do que nos apresenta o argumento do resources curse (maldição dos recursos minerais, cf. Collier, 2008) ficamos sem saber quais as empresas por sector não petrolífero que estão a liderar este processo.

Gostariamos, por exemplo, de saber qual tem sido o contributo, em termos de impostos, dos grandes grupos empresariais que o país hoje dispõe.  Afinal, se apesar deste aumento existir grandes empresas que ainda não estejam a pagar ao estado o que é devido dificilmente deixaremos de depender dos recursos que provem dos nossos recursos minerais que por não serem renováveis um dia se acabarão!

PS: A minha última análise (cf. Wanda, 2013) sobre a contribuição do sector não petrolífero indicava que empresas do sector de bebidas e telecomunicações em Angola estavam a ter um forte contributo como fonte de receitas para  o estado.

 

2 comentários:

  1. Dr. Wanda na minha visão,o sector de construção civil também encontra-se em grande crescimento em Angola,e tem que haver mais controlo dos impostos que vêm dessas empresas,porque «, eu uso um termo "peneira" já que o imposto passa em mão em mão dai sofre cortes só mesmo a partir da hierarquia de administração do sector público. Entretanto espero que o governo aplique regras que beneficiem o investimento, mas também aperte nos impostos, pelo menos na suas cobranças.Obrigado

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    1. Caro Eric, apesar de concordar com muito do que apresentas, gostaria de colocar-lhe a seguinte questão: Como encontrar um equilibrio entre "beneficiar" o investimento e "apertar" na cobrança de impostos? Existem estudos sobre a Zâmbia e Moçambique que nos mostram que este equilibrio é extremamente necessário e sem ele o estado (e com ele a grande maioria da população) acaba por perder muito dinheiro e os grandes investidores facturam brutalmente e contribuem quase nada. Muito recentemente no Reino Unido levantou-se o caso da Amazon.com e da empresa Starbucks que tiveram grandes lucros mas pagaram impostos muito reduzidos. Isso mostra que hoje este problema não é apenas coisa de paises em desenvolvimento parece ser um problema global! Uma das medidas que proponho é a divulgação do que as grandes empresas pagam em termos de impostos, para que pessoas ligadas ao mundo academico e não só possam fazer estudos com base nesses dados.

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