terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Angola e a Zona de Comércio Livre da SADC (2)

Quando abordamos inicialmente este tema no nosso post de 4 de Agosto de 2014, sugerimos que a “liberalização do comércio entre dois países (ou mais) gera benefícios mútuos quando os mesmos se encontram em igual estágio de desenvolvimento, de contrário ganha mais o que estiver mais desenvolvido”. Neste post vamos usar o ultimo relatório sobre a competitividade das economias africanas (relatório de 2015) para melhor ilustrarmos alguns dos argumentos apresentados anteriormente.

A teoria da Vantagem Comparativa proposta por David Ricardo nos sugere que os países deveriam se especializar naquilo que sabem bem-fazer. Contudo, nesta reflexão vamos nos basear nos indicadores apresentados pelo World Economic Forum no seu Índice de Competitividade Global, para vermos o actual posicionamento da economia angolana quando comparada com outras da região austral.

Segundo o Índice de Competitividade Africana de 2015 a economia angolana é uma economia em transição, estando precisamente entre o estágio 1 – factor driven e o estágio 2 – efficiency-driven. Por outras palavras a economia angolana esta numa fase de transição em que procura deixar de depender dos recursos naturais e busca desenvolver processos produtivos mais eficientes e dar uma maior qualidade aos seus produtos.

A zona de comércio livre (doravante ZCL) da SADC visa integrar as economias da região austral permitindo uma livre circulação de produtos e serviços. Vale abrir um parêntesis para dizer que no que toca a livre circulação de pessoas essa questão, em nosso entender, parece não estar ainda bem definida. Para que haja livre circulação de produtos e serviços pensamos nós ser necessário primeiro a sua produção. Assim sendo, países que estejam no estágio 1 de desenvolvimento (dependentes dos seus recursos naturais) terão mais dificuldades do que aqueles que estão a procurar desenvolver processos produtivos mais eficientes (e produtos com maior qualidade). Essa dificuldade torna-se mais evidente num período em que o preço dos recursos naturais estiver em baixa devido a fraca demanda ou excesso na oferta.

Para o caso de Angola, neste momento o país procura desenvolver o seu processo produtivo (industrialização e parece que a partir de 2016 uma maior aposta na agricultura). Uma comparação entre o Índice de Competitividade das duas maiores económicas da região, Angola e África do Sul, podemos ver, abaixo, que Angola é menos competitiva em quase todos os requisitos havendo um ligeiro equilíbrio nos seguintes requisitos: Saúde e Educação Primaria e Eficiência do Mercado de Trabalho. Angola acaba por ter uma ligeira vantagem no Ambiente Macroeconómico. De resto, em factores como Infra-estrutura e Desenvolvimento do Mercado Financeiro dois factores que em muito contribuem para o surgimento de investimento privado (nacional e estrangeiro) o gap (diferença) entre os dois países é significativo.
 
Havendo um livre comércio entre essas duas economias podemos deduzir que a economia sul-africana estaria em melhores condições de suplantar a angolana, produzindo de forma mais eficiente produtos de maior qualidade. Angola precisaria de algum tempo para reduzir esse gap.
Comparando o Índice de Competitividade entre Angola e Moçambique, abaixo, apesar da ligeira vantagem de Moçambique podemos ver que existe um maior equilíbrio entre essas duas economias. O gap maior está na Eficiência do Mercado (de bens e serviços) onde Moçambique está muito melhor. Isso significa que um livre comércio entre elas poderia ainda permitir que ambas continuassem a desenvolver os seus processos produtivos visando produzir produtos de maior qualidade. 
 
Colocando as 3 economias numa ZCL, podemos ver que a economia sul-africana por ser a mais competitiva (ver imagem abaixo) deverá, em princípio, ser capaz de produzir bens e serviços de uma maneira mais eficiente e com maior qualidade, o que poderia fazer com que as outras duas economias (Angola e Moçambique) tivessem maiores dificuldades de darem continuidade do desenvolvimento dos seus processos produtivos uma vez que os consumidores nesses países poderiam ter já a sua disposição produtos com maior qualidade comparados com os de produção local que estariam ainda numa fase incipiente.
 
 
Visto desta forma, acreditamos nós, que sendo a integração na ZCL da SADC algo inevitável atendendo aos compromissos assumidos (a entrada segundo a Ministra do Comércio está prevista para 2017[1]), parece-nos evidente que Angola precisa entre 2016-17 aumentar o seu índice de competitividade por formas a estar o mais próximo possível da maior economia da região.

Se tivermos em conta que o gap verificasse em áreas que requerem grandes investimentos (exemplo: infra-estrutura, ensino superior, desenvolvimento tecnológico) e atendendo ao facto de Angola estar a passar por uma crise económico-financeira devido a redução da receita fiscal proveniente do petróleo, temos sérias dúvidas quanto a possibilidade de Angola reduzir essa diferença de produtividade nos próximos 1- 2 anos.

Essa constatação leva-nos a concluir que Angola (e os angolanos) poderá vir a ser adversamente incorporada na zona de comércio livre da SADC em 2017 a não ser que se façam ajustes na actual política de desenvolvimento adoptando algumas das medidas de temos estado a analisar em várias ocasiões neste blog (ex.: focos na industria manufactureira e no aumento de produtividade do sector agrário, exigir daqueles que tem sido os maiores beneficiários da actual política de desenvolvimento resultados no que toca a criação de empregos e volume para exportação).



[1] Fonte: http://www.voaportugues.com/content/angola-zona-comercio-livre-africa-austral/2937703.html
 

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