Contudo, ao lermos um estudo do Gabinete da Contratação
Pública do Ministério das Finanças (MINFIN)[2] de
Abril 2015 obtivemos alguns dados interessantes a saber: das 9547 MPME
certificadas pelo Instituto Nacional de Apoio às Micro, Pequenas e Médias
Empresas (INAPEM) 46.6% estão localizadas em Luanda chegando a existir
províncias com apenas 61 empresas certificadas (província do Zaire). Uma outra
constatação interessante é o facto de 45.7% das MPME registadas dedicarem-se ao
comércio a retalho e apenas 8.6% a indústria manufactureira. Este facto deveria
preocupar os nossos fazedores de políticas uma vez que a teoria económica nos
mostra que o sector do comércio a retalho tem menos possibilidade de contribuir
directamente para a diversificação das exportações (e consequentemente a
arrecadação de divisas). Sendo o comércio a retalho o foco da grande maioria
das MPME em Angola a possibilidade delas directamente jogarem um papel
preponderante na criação de empregos sustentáveis, como acontece em outras
partes do mundo, parece-nos reduzida.
No que tange ao acesso a serviço através da contratação
pública, vê-se neste boletim que as MPME tiveram acesso (no período em analise)
a apenas 6,3% de todas as cabimentações realizadas (correspondendo 1.247 de um
total de 19.932). O interessante é constatar que as MPME cadastradas pelo
MINFIN tiveram acesso apenas a 1,3% das cabimentações uma vez que os restantes
4,9% recaíram as MPME não cadastradas, o que não deixa de ser preocupante. Vale
aqui realçar que o facto das MPME não cadastradas levarem vantagens no que toca
ao acesso a cabimentações a nível da contratação pública, não significa que
elas não estejam a contribuir com o pagamento de impostos. Contudo num país
onde o estado, através da contratação pública, permite as MPME acesso a renda
esta realidade levanta sérios desafios ao propósito da AGT de expandir a base
tributaria uma vez que não nos parece haver um incentivo ao cadastramento das
MPME junto do MINFIN, logo, poderá estar havendo um controlo deficiente.
Se quisermos reduzir os actuais 60% de nível de
informalidade no mercado nacional, algumas medidas de política podemos
depreender dessa nossa reflexão: (1) garantir que no processo de contratação
pública o cadastramento sirva de
incentivo as MPME, (2) criar incentivos para que o número de MPME no sector
da indústria transformadora aumenta (dando apoio a projectos em sectores como a
agro-indústria, a fabricação de vestuário e calçado) ou que as existentes
(viradas ao comércio a retalho) evidenciem esforços para comercializarem cada
vez mais produtos made in Angola.
Em suma, para que as MPME em Angola, como em outras
partes, sejam o motor da economia, gerando empregos sustentáveis e contribuindo
com os seus impostos, elas precisam actuar em sectores capazes de gerarem uma
economia de escala (ex.: indústria transformadora) bem como ter acesso a renda (incluindo via
contratação pública), duas das coisas que actualmente não se verificam, logo,
justifica-se o actual grau de informalidade.
[2] MINFIN Gabinete da Contratação Publica
(Abril 2015) “Boletim Estatístico da Contratação Pública Angolana 2o Semestre
de 2014”
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