A ideia de que o Executivo Angolano passou a tomar uma atitude
mais acertada no relacionamento com a China não é nova (ver publicações de Lucy
Corkin[1])
contudo, apesar dos pontos 2 e 3 acima apresentados serem de fácil comprovação ainda
assim não se consegue saber de concreto o que se quer dizer por ‘incorporação de
conteúdo local’. Afinal ela pode ser feita de várias formas: desde a contratação
de mão-de-obra local até a aquisição de materiais de construção produzidos localmente.
Para se tirar o maior proveito e gerar efeitos multiplicativos desta LCC pensamos que o Executivo deveria dirigir esse processo priorizando a necessidade da aquisição de
materiais de construção localmente produzidos, o que poderia ajudar a alavancar
o sub-sector da indústria de produção de materiais de construção. Esse esforço poderia
fazer com que no final das obras Angola tivesse uma indústria de produção de materiais
de construção forte e com alguma capacidade produtiva de exportação para os países
da região[2]
e não só.
Priorizar a aquisição de materiais de construção localmente
produzidos poderia também garantir o aumento da oferta de emprego para os
jovens (muitos deles que hoje exigem um pouco mais do Executivo) bem como forçar
as indústrias locais a investirem na expansão da sua capacidade produtiva (através
da aquisição de novas máquinas e/ou a adopção de novas tecnologias de produção)
afinal teriam demanda imediata para os seus produtos.
Dependendo da duração dos vários projectos o Executivos poderia
canalizar recursos através, por exemplo, do programa Angola Investe[3]ou
do BDA, para fomentar o surgimento de um outro sub-sector relacionado com a produção de matérias-primas para a indústria
de produção de materiais de construção.
Apresentado desta forma fica claro que a incorporação de conteúdo
local para esta LCC não pode ficar
ao critério dos empreiteiros a seleccionar, sob pena de o Executivo repetir o
erro cometido a quando das primeiras linhas de créditos que resultaram na construção
das centralidades que tanto orgulham o Executivo mas que pouco efeito
multiplicativo gerou. O Executivo Angolano tem com esta nova LCC a oportunidade
de mostrar que aprendeu com os erros do passado e fazer com que em 2017 continue
a ser (talvez) a opção certa!
[1] Corkin,
Lucy (2011) “Strategic Partnership or Marriage
of Convenience?” ANGOLA BRIEF January 2011 Volume 1 NO.1. http://www.cmi.no/publications/publication/?3938=china-and-angola-strategic-partnership-or-marriage [Last accessed 8 April 2013]; Corkin, L. (2012) “Angolan political elites’
management of Chinese credit lines” in Power, M. and Alves, A. C. (eds.) China and Angola: A Marriage of Convenience?
Oxford: Pambazuka.
[2] Temos conhecimento que algum material de construção produzido
localmente (no caso o cimento) tem sido já exportado para a Rep. Democrática do
Congo por canais impróprios.