sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Por uma Política Industrial Selectiva (2): Exportação ou substituição da importação em tempo de crise

É dado assente que o nosso governo está atrasado no que toca ao processo de diversificação da nossa economia. Vale contudo reconhecer que apesar disso alguma coisa foi sendo feita ao longo dos últimos 13 anos, uma vez que só assim se pode justificar o crescimento, por exemplo, da indústria de bebidas, indústria de cimento, tintas apenas para mencionarmos os casos mais relevantes.

Neste blog temos estado a apresentar as várias razões para Angola, a exemplo do que fizeram países como a África do Sul e Etiópia, elaborar uma política industrial selectiva onde ficaria claro a possível localização geográfica de cada indústria, os apoios a dar bem como as metas de desempenho esperadas (número de empregos a gerar, volume de produção e receitas) e penalizações.

Em conversas com alguns colegas temos ouvido opiniões que sugerem que o país não deveria focalizar-se nas exportações sem antes satisfazer o mercado interno. Apesar de interessante essa opinião peca pelo seguinte: em período de crise as fontes de moeda externa são reduzidas. Como se sabe Angola, em termos de exportações, dependente essencialmente do petróleo e neste momento o mesmo não garante todas as nossas necessidades de moeda externa para aquisição de bens e serviços não produzidos localmente.

Pensar que os países precisam primeiro de satisfazerem a demanda interna para depois aventurarem-se nos mercados externos, processo que ocorreria por etapas (ou estágios seguindo a proposta de Walt Rostow[1]) apesar de apelativa, num mundo globalizado onde os país competem entre si por acesso a mercados, seria para Angola um desastre!

A história do desenvolvimento económico dos países da américa-latina quando comparada com a dos países asiáticos nos mostra que o erro dos latino-americanos foi de não terem mudado para uma industrialização virada a exportação quando o processo de industrialização para a substituição das importações começou a dar sinais de exaustão. Por que razão isso aconteceu?

Isso aconteceu devido a problemas na balança de pagamentos, uma vez que todo o processo de industrialização requer a aquisição de tecnologia e isso precisa ser financiado. Assim sendo, pensamos que não identificar e apostar em sectores (e produtos) capazes de gerarem demanda nos mercados externos a partida é receita perfeita para Angola replicar a experiência latino-americana.

Países ricos em recursos naturais como Angola tiveram a vantagem de focalizar-se apenas no processo de industrialização para a substituição das importações, quando os preços das matérias-primas (no caso de Angola o petróleo) estavam em alta nos mercados externos e não havia problemas na balança de pagamentos. Em tempo de crise essa vantagem desaparece, há pouca disponibilidade de moeda externa (neste momento isso é uma realidade em Angola) e como tal existe a real necessidade de se identificar e apostar em sectores (produtos e produtores) capazes de gerarem um efeito multiplicativo dos poucos recursos que lhes sejam disponibilizados (gerando empregos, volumes e receitas). Esse facto obriga necessariamente a exportação de um outro produto que tenha condições de ser comercializado nos mercados externos mesmo que internamente a demanda não esteja ainda satisfeita.

 



[1] Ver a obra The Stages of Economic Growth: A Non-Communist Manifesto

2 comentários:

  1. Ora, o sucesso de crescimento asiático teve como pilares três factores: i) uma elevada taxa de poupança e investimento; ii) acumulação de capital humano; iii) a internacionalização da economia. o caso de Angola é um pouco longe dessa realidade, acho, porque os níveis d poupança não têm gerado o nível de investimento eficiente, fraca acomulação d capital humano(com poucas qualidades) e a procrastinação na abertura da economia(como a entrada na zona do comércio livre da SADC). penso que a concômitância na adoptação das estratégias de substituícão e promoção das exportações não é necessáriamente um grande problema no sentido em que, o Estado deve ter a capacidade de perceber quando, por exemplo, a substituíção das importações está à exaustão e a seguir promover então as exportações, porque a satisfação do mercado interno é fundamental porque reduz a importação de bens e serviços(e pouca necessidade de se ter divisas), havendo apenas a necessidade d divísas para o financiamento.... so é possível satisfazer o mercado interno se houver condições favoráveis de investimento e que ainda temos muito o q fazer nesse sentido.By: DhWilson

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    1. Caro DhWilson, comeco por convida-lo a reflectir no seguinte: Sera que a “elevada poupanca e o investimento” tiveram lugar LOGO a partida? Resposta e’ simples NAO! Segundo o Jornal Expansao Angola tem cerca de 28 mil milhoes investidos fora (nao sei como estes numeros foram calculados mas sao expressivos). Em tempo de crise como apresentamos nesta reflexao nao podemos esperar que a substituicao das importacoes chegue a exastacao, para avancarmos com a promocao das exportacoes, devemos fazer as duas em simultaneo. Agora acrescentamos que em tempo de crise devemos criar condicoes para que parte do capital que esteje fora regresse e que possa ser aplicado no sector produtivo. By: FW

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