Pois bem neste post
vamos tratar de reflectir sobre essa mesma pergunta tendo como pano de fundo o projecto governamental de construção de
cerca de 22 pólos industriais, por vermos que continuamos a cometer o erro
de não ver e aprender com o que de melhor fizeram e fazem os outros países.
Ao concentrar a indústria automóvel americana em Detroit
foi possível a América (e aos americanos) criar sinergias entre elas, partilhar
experiências e reduzir os custos de produção neste sector. O mesmo aconteceu
com o chamado Silicon Valley no estado da
Califórnia onde está concentrado o sector das tecnologias de informações ou Wall Street em Nova Iorque onde está
concentrado o sector financeiro.
Para o caso de Angola se a rede de pólos industriais visa
proporcionar condições em termos de infra-estruturas básicas (ex: água e luz)
para que as industrias (apesar de não sabermos quais[1]) possam
produzir a um custo competitivo, permitindo-lhes pensar na expansão para
mercados exteriores, vale perguntar se a localização geográfica de cada um
desses investimentos vai de facto permitir atingir esse objectivo (diversificar
a produção e fontes de receitas).
Os factos indicam que nos dois primeiros pólos do país, Viana
e Catumbela, contrariamente ao que se esperava temos pouca actividade
industrial. Para o caso de Viana apenas existem 150 indústrias de manufactura num
universo de 500 empresas, significa dizer que 70% do espaço criado (e infra-estruturado) não está a ser usado
para criar a dinâmica necessária para a transformação estrutural da nossa
economia (ver por exemplo o post de
1 de Março 2015). Ao invés poderá estar a ser usado para o armazenamento
(e respectiva comercialização) de produto importado.
Então voltamos ao que já havíamos dito no post de 2 de Janeiro de 2016, quando identificamos a necessidade de haver um certo pragmatismo como o desafio numero 1 para Angola em 2016. Aliás, pragmatismo foi o que
levou os chineses a atingirem o nível
de desenvolvimento que hoje lhes é reconhecido ao mesmo tempo que parece estar
a permitir os vietnamitas fazerem o
mesmo.
O que se via na China e vê-se hoje no Vietname mostra que a criação de
pólos industriais estava e está associada a uma estratégia de servir o mercado
interno e externo. Se para o caso de Angola quisermos atingir os mercados
externos (tanto a nível regional como para além do mercado da SADC), não vai
ser suficiente identificar os produtos com mais possibilidades de atingirem
esse propósito. Vai ser preciso ter em atenção no momento da criação do pólo
industrial os pontos de saída (como portos e zonas fronteiriças terrestres,
acesso ao caminho de ferro) para não tornar oneroso o processo de exportação.
Enfim, a criatividade que se
espera nesta altura de crise não tem nada a ver com a construção primeiro de
pólos industriais para depois esperar que alguma indústria se desloque, mas sim
com a criação de projectos bem
estruturados que considerem a partida
(1) quais as industriais a instalar (tendo em atenção o seu potencial em termos
de receitas, empregos e ligação com outros sectores da economia) e o (2) que
fazer com a produção (focos no mercado interno, externo ou ambos?) devido as
implicações no que toca aos já mencionados pontos de saída para
exportação.
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