segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Porquê é que nos EUA não existe uma fábrica de automóvel em cada um dos estados?

Essa foi a pergunta que um antigo professor fez-me quando mostrei-lhe uma brochura da Rede Nacional de Pólos Industriais, como uma evidência de que em Angola o estado parece já estar apostado (agora com a crise, mais do que nunca) na industrialização do país e consequentemente na diversificação da economia capaz de reduzir a sua dependência nas receitas provenientes da venda do petróleo.

Pois bem neste post vamos tratar de reflectir sobre essa mesma pergunta tendo como pano de fundo o projecto governamental de construção de cerca de 22 pólos industriais, por vermos que continuamos a cometer o erro de não ver e aprender com o que de melhor fizeram e fazem os outros países.

Ao concentrar a indústria automóvel americana em Detroit foi possível a América (e aos americanos) criar sinergias entre elas, partilhar experiências e reduzir os custos de produção neste sector. O mesmo aconteceu com o chamado Silicon Valley no estado da Califórnia onde está concentrado o sector das tecnologias de informações ou Wall Street em Nova Iorque onde está concentrado o sector financeiro.   

Para o caso de Angola se a rede de pólos industriais visa proporcionar condições em termos de infra-estruturas básicas (ex: água e luz) para que as industrias (apesar de não sabermos quais[1]) possam produzir a um custo competitivo, permitindo-lhes pensar na expansão para mercados exteriores, vale perguntar se a localização geográfica de cada um desses investimentos vai de facto permitir atingir esse objectivo (diversificar a produção e fontes de receitas).

Os factos indicam que nos dois primeiros pólos do país, Viana e Catumbela, contrariamente ao que se esperava temos pouca actividade industrial. Para o caso de Viana apenas existem 150 indústrias de manufactura num universo de 500 empresas, significa dizer que 70% do espaço criado (e infra-estruturado) não está a ser usado para criar a dinâmica necessária para a transformação estrutural da nossa economia (ver por exemplo o post de 1 de Março 2015). Ao invés poderá estar a ser usado para o armazenamento (e respectiva comercialização) de produto importado.

Então voltamos ao que já havíamos dito no post de 2 de Janeiro de 2016, quando identificamos a necessidade de haver um certo pragmatismo como o desafio numero 1 para Angola em 2016. Aliás, pragmatismo foi o que levou os chineses a atingirem o nível de desenvolvimento que hoje lhes é reconhecido ao mesmo tempo que parece estar a permitir os vietnamitas fazerem o mesmo.

O que se via na China e vê-se hoje no Vietname mostra que a criação de pólos industriais estava e está associada a uma estratégia de servir o mercado interno e externo. Se para o caso de Angola quisermos atingir os mercados externos (tanto a nível regional como para além do mercado da SADC), não vai ser suficiente identificar os produtos com mais possibilidades de atingirem esse propósito. Vai ser preciso ter em atenção no momento da criação do pólo industrial os pontos de saída (como portos e zonas fronteiriças terrestres, acesso ao caminho de ferro) para não tornar oneroso o processo de exportação.

Enfim, a criatividade que se espera nesta altura de crise não tem nada a ver com a construção primeiro de pólos industriais para depois esperar que alguma indústria se desloque, mas sim com a criação de projectos bem estruturados que considerem a partida (1) quais as industriais a instalar (tendo em atenção o seu potencial em termos de receitas, empregos e ligação com outros sectores da economia) e o (2) que fazer com a produção (focos no mercado interno, externo ou ambos?) devido as implicações no que toca aos já mencionados pontos de saída para exportação.     

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