quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Podemos ser leopardos, chitas ou hienas mas… TIGRES? Não!

No post de 13 de Outubro de 2016 tratamos de apresentar o caso da recuperação da indústria têxtil angolana, abordando o problema de desarticulação verificada entre o processo de reabilitação[1] das fábricas (Nova Textang em Luanda, Satec no Dondo, Kwanza Norte e África Têxtil em Benguela) e a falta de matéria-prima o que iria fazer com que se recorresse a importação numa primeira fase (sem se especificar um prazo). Ao lermos[2] que o Executivo angolano apadrinhou a criação da Associação Industrial das Indústrias Têxteis e Confecções de Angola (AITECA), acreditamos que esta associação poderá ser um canal através do qual os problemas das várias indústrias deste subsector poderão ser apresentados e solucionados de uma forma mais coordenada o que não deixa de ser louvável.

A indústria têxtil (e confecções) é sem dúvida a par da indústria de bebidas e alimentos e do subsector dos materiais de construção, uma das que poderá contribuir para o processo de diversificação económica e para a criação de uma mão-de-obra industrial em Angola. É importante termos em conta que essas indústrias são na sua essência intensivas em mão de obra e como tal têm o potencial de contribuir para a redução do desemprego, dando acesso a um emprego no sector formal da economia aos jovens que tanto necessitam de uma oportunidade para melhorarem as suas condições de vida[3].

De facto se olharmos para outros exemplos recentes de países que atingiram um nível rápido de desenvolvimento (ex.: Ilhas Maurícias) ou até de países que estão nesta altura a caminhar para essa direcção (ex.: Vietname, Camboja, Bangladesh, Etiópia, Lesoto) notamos que por esta via i.e. dinamização do sector têxtil outras externalidades foram criadas a montante e a jusante. A jusante temos o sector da agricultura, aqui falamos particularmente da produção da principal matéria-prima i.e. o algodão, que poderá ter um grande incentivo para retomar a produção do algodão nas áreas tradicionais bem como expandir-se para outras áreas de Angola desde que recursos sejam canalizados para dar suporte a essa expansão da produção. Isso poderá ter um outro impacto na área de prestação de serviços a este sector uma vez que um aumento da demanda de algodão só pode ser satisfeita se houver uma correspondente melhoria na prestação dos vários serviços que compõe este sistema produtivo. A montante poderemos assistir um rápido crescimento da indústria de confecções, reduzir as importações e começar a exportar tirando proveito de programas como o AGOA - African Growth and Opportunity Act que facilita o acesso ao mercado Norte-Americano (EUA) a países africanos em desenvolvimento.

 Contudo, para que isso seja possível o Executivo e as indústrias nacionais precisam aprender com as experiências de alguns países africanos (acima citados) vendo como alguns desses países foram capazes de ao mesmo tempo dinamizar o mercado interno e assegurar o crescimento das indústrias nacionais bem como atrair para os seus mercados algumas empresas estrangeiras que com as suas experiências (novo estilo de gestão, novas tecnologias, conhecimento e experiencia em matéria de exportação para o mercado Europeu e dos EUA) foram capazes de fazer com que as indústrias locais rapidamente se tornassem competitivas no mercado global que é bastante concorrido (especialmente no acesso, como fornecedores, as cadeias logísticas de produção das grandes marcas internacionais).

Como se pode compreender esse exercício só será possível caso o Executivo consiga melhorar o processo de coordenação[4] dos vários incentivos ao investimento necessários a montante e a jusante. Enfim, uma fez ultrapassado este constrangimento podemos então pensar em sermos leopardos, chitas ou hienas mas… TIGRES? Não! Afinal, cara vice-presidente da AITECA, não existem tigres em África[5]!




[1] Esse processo de reabilitação ficou orçado em 1.2 mil milhões de dólares e foi financiado pelo Japão.
[3] Estamos conscientes de que o problema do desemprego afecta toda gente. Contudo, não podemos esquecer que o Censo de 2014 mostrou que Angola é um país essencialmente jovem e como tal essa atenção especial torna-se imperiosa.
[4] Algumas pistas foram apresentadas neste blog nos posts de 1 de Março 2015 e de 19 de Fevereiro 2016.
[5] Isso em referência ao que vem citado no Jornal de Angola online de 22 de Fev. 2017: http://jornaldeangola.sapo.ao/economia/investimentos/industria_textil_mais_competitiva 22-Feb-17