Recentemente
ao vermos parte da comunidade internacional a alcançar um acordo histórico com o
Irão abrindo assim a possibilidade de se reduzir ou mesmo acabar com as sanções
que limitam as exportações petrolíferas deste país, ficamos ainda mais
preocupados com a nossa ainda frágil situação. Em Angola o discurso político,
no que a estratégia de desenvolvimento industrial diz respeito, tem-se
centralizado na necessidade do país se industrializar para substituir as importações
e poupar divisas.
Isso
por si só não é suficiente, dai ter o governo mostrado a intenção de criar a
ANPEX – Agencia Nacional de Promoção das Exportações de Angola, entidade que
vai ajudar o país a dar o próximo passo no que ao processo de industrialização diz
respeito. Agora vamos não só tratar de poupar divisas como também diversificar as
nossas fontes de divisas.
O
maior problema que identificamos no post de 26
Abril 2015 foi a limitada opção disponível. Das 27 empresas ligadas a Associação
de Empresas Exportadoras de Angola, por exemplo, apenas 7 (5 ligadas ao sector agrícola
e 2 as pescas) poderiam verdadeiramente pensar em exportar (desde que
cumprissem com os requisitos).
Essa
realidade, apesar de dura, nos mostra que muito ainda há que ser feito para que
o novo passo no longo processo de industrialização possa ser dado de forma sustentável.
Contudo, sendo um país em via de desenvolvimento, Angola (e os angolanos a vários
níveis) tem alguns exemplos que poderia aproveitar.
A
história do desenvolvimento de países como a Coreia do Sul e Taiwan, Malásia e
Singapura nos mostra que um factor importante do seu sucesso foi a capacidade de
passar de um processo de industrialização virado a substituição das importações
por outro focalizado nas exportações. Esses países perceberam muito cedo que
apesar de ser importante substituir as importações é ainda muito mais crítico
garantir novas fontes de divisas por meio das exportações.
Para
tal esses países trataram não só de identificar os sectores em que poderiam
concorrer com algum sucesso a nível do comércio internacional como também criaram
condições (ex.: infra-estruturas) através da contrução de Zonas Económicas Especiais que
permitiram a deslocação de empresas estrangeiras e o surgimento de outras de
caracter nacional (ex.: China, Malásia). A Índia, por exemplo, por ter antes
treinado um número exagerado de engenheiros com especial ênfase no sector de informática
hoje tornou-se num dos maiores hubs (centros) de informática a nível mundial.
Existem várias formas de se dinamizar as exportações. Mas
o sucesso para esses países surgiu porque eles foram capazes de produzir
produtos de elevada qualidade (produtos da marca Samsung e Kia fazem hoje parte
do quotidiano angolano ao lado de marcas europeias e americanas) de forma
eficiente com a criação, por exemplo, de métodos de produção JIT – Just in Time. Notem que as empresas japonesas, por
exemplo, adoptaram os princípios de Gestão (Total da Qualidade) propostos pelo professor
americano W. E. Deming muito antes das empresas americanas.
Assim sendo, pensamos que as
empresas angolanas não precisam de primeiro esgotarem o processo de substituição
das importações para depois pensarem em exportar. É importante percebermos que
devemos criar essa mentalidade virada para o mercado exterior desde muito cedo, apostando
na produção eficiente de produtos de alta qualidade, identificando em que empresas
e produtos made in Angola apostar, perceber
quais são as exigências para os exportadores nesses mercados externos se quisermos ter
sucesso.
Os
nossos empreendedores têm hoje disponíveis bons exemplos. Tal, contudo, não isenta
o estado das suas responsabilidades. Caberá ao estado fazer os nossos empreendedores
perceberem que Angola tem duas opções: “Exportar ou morrer”! Para tal a criação
de incentivos, que não passam necessariamente pela simples e directa redução ou
isenção de impostos mas que através da (1) alocação
de verbas para que os nossos académicos[1] possam
desenvolver estudos que venham a identificar sectores, mercados para os
produtos made in Angola, (2) condicionar qualquer redução ou isenção
de impostos ao alcance de metas de exportação previamente definidas, (3) ligar
o sector de exportação a política
externa (ex.: condicionar uma parte da verba para ajuda externa a aquisição
de bens e serviços made in Angola). Por exemplo, quando Angola ajudou a República Centro Africana poderia aproveitar para, como parte do pacote de ajuda, abrir novos mercados para alguns produtos made in Angola.
A
necessidade de se identificar novas fontes sustentáveis de divisas é real e
como tal precisa de atenção já, sob pena de sermos incorporados a nível regional (ex.: na zona de comércio livre da SADC)
e mundial de forma adversa!
[1] Nem sempre será possível encontrar mercado
para todos os produtos made in Angola,
dai que poderá ser necessário identificar e apoiar aqueles que possam ter uma maior
possibilidade de sucesso.