sábado, 5 de setembro de 2015

“Se você me engana uma vez, a vergonha é sua, se você me engana duas vezes a vergonha é minha!” - O FMI e os Salários na Função Pública em Angola.

Nos últimos dias foram divulgadas, especialmente através das redes sociais, várias reacções contra a sugestão deixada pelo FMI a quando da última visita ao abrigo do Artigo IV. Neste post vamos brevemente rever o que de facto sugeriu o FMI e as razões das reacções verificadas.

O FMI no seu comunicado de imprensa verdadeiramente sugeriu que seria “fundamental alinhar melhor a massa salarial no sector público, em percentagem do PIB, com a nova realidade de receita orçamental” [nosso ênfase]. Dai dizermos que o FMI está a sugerir uma redução no salário [por si só já magro] da função pública é um outro exercício. Mas então a que se deveu as reacções que vimos nas redes sociais?

Em nosso entender tal reacção poderia encontrar respaldo no que a teoria económica chama de Rational Expectations Theory [traduzindo: teoria das expectativas racionais]. Ela nos sugere que os agentes económicos tomam decisões baseando-se nas informações disponíveis e nas experiências passadas.

Se olharmos para o que aconteceu com o aumento do preço dos combustíveis notamos que o que o FMI havia sugerido, numa visita idêntica, foi o aumento gradual do preço bem como sugeriu um preço máximo de 115 Kwanzas. Todos nós sabemos qual foi a realidade material. Tivemos uma subida brusca dos preços e tal aumento ultrapassou o que havia sido inicialmente recomendado!

Analisado o problema desta forma podemos ver que quem está nervoso hoje até tem alguma razão de estar uma vez que tendo em conta a experiência passada, a luz do que nos ensina a teoria das expectativas racionais, espera-se que o governo aproveite essa recomendação para fazer o mesmo que fez com o preço dos combustíveis mesmo que não haja indício de momento. Afinal como diz um ditado Chinês “se você me engana uma vez, a vergonha é sua, se você me engana duas vezes a vergonha é minha!”

 

P.S.: No nosso post de 21 de Maio de 2014 argumentamos que um bom salário contribuía significativamente para o aumento de produtividade dos trabalhadores. Reduzir o salário em nosso entender originaria um processo inverso bem como poderia causar uma certa instabilidade social, algo que poderia minar o não tão confortável ambiente de negócios do país. Poderíamos considerar reduzir o número de administrações comunais/municipais existentes, reduzir o número de vice-governadores, ministérios e secretários de estado. Mas como sabemos que tal redução não seria politicamente viável ficamos pela sugestão da aplicação do método de gestão por objectivos. Quem não fosse capaz de atingir as metas definidas poderia ver o seu posto de trabalho extinto. Afinal é na crise que emergem os grandes líderes e gestores.

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