sexta-feira, 7 de julho de 2017

Juventude e Desenvolvimento: João Lourenço e a emigração de jovens africanos.

No nosso primeiro post sobre este tema[1] reflectimos sobre os desafios que o crescimento da população jovem africana, que passará de 230 para 452 milhões até 2050[2], representava para África em geral e muito particularmente para Angola, onde se vislumbra uma estratégia de disponibilização de kits de auto-emprego ao invés de se adoptar o que temos chamado neste blog de uma política industrial selectiva por formas a dinamizar aquelas indústrias intensivas em mão de obra (ex.: indústria têxtil e confecções, alimentar) capazes de proporcionar a sua população mais jovem uma melhor perspectiva de vida através de um emprego sustentável no sector formal da economia.

Ao lermos[3] que João Lourenço, candidato a Presidente da República pelo partido MPLA nas próximas eleições de 23 de Agosto 2017, durante a 29.º Cimeira de Chefes e Estado e de Governo da União Africana, alertou que "Estamos a assistir com alguma apreensão à emigração dos nossos jovens, sobretudo para a Europa, em condições bastante perigosas e, diria mesmo, vergonhosas" fez-nos relembrar que, ainda olhando para o contexto angolano, o problema não está nos jovens mas sim na estratégia adoptada por quem tem por obrigação ‘resolver os problemas do povo’! No nosso artigo[1] indicamos que Angola tem uma população maioritariamente jovem e como tal não pode o Executivo ficar alheio a essa realidade devendo para tal assegurar que os projectos de desenvolvimento sejam priorizados tendo em conta os empregos a gerar (para a juventude), receitas fiscais (para haver mais para investir em outros sectores) e volumes de produção (substituindo as importações e promovendo as exportações). Infelizmente esta não tem sido a realidade material em Angola e em muitos outros países africanos.

Fruto dessa realidade, i.e. falta de políticas que ajudem a promover, como indicado, as indústrias intensivas em mão de obra, existe um nível de desemprego considerável em África e muito particularmente entre a população jovem do continente. Como resultado houve um aumento de conflitos armados (Sudão do Sul, República Centro Africana), aumento da violência religiosa extremista em países como a Nigéria, Somália, Mali, falasse mesmo num certo retrocesso nos processos democráticos a nível do continente (ex.: República Democrática do Congo, Burundi). Em Luanda, verificamos um aumento da criminalidade e do comércio ambulante precário. Apresentado desta forma, hoje a “emigração dos nossos jovens, sobretudo para a Europa, em condições bastante perigosas e, (…), vergonhosas” como assinala João Lourenço (o candidato do MPLA a PR) é, em nosso entender, o mal menor para muitos países africanos.

Para o caso de Angola, a luz das próximas eleições, a solução passa por exigir que os partidos políticos apresentem nos seus programas de governação propostas concretas que ajudem a juventude a transformar-se no motor do desenvolvimento (através do acesso ao emprego de qualidade) ao invés de manterem o status quo e vê-la a transformar-se numa enorme ameaça. Voltamos a lançar o desafio!



[1] Nós abordados este tema em primeira mão como: Wanda, F. (2017) “Se África Está no ‘Ponto de Inflexão’, O Que Será da Juventude em Angola: Ameaça ou Força para o Desenvolvimento? – Analise”, Novo Jornal (online) disponível online: http://www.novojornal.co.ao/artigo/77218/se-africa-esta-no-ponto-de-inflexao-o-que-sera-da-juventude-em-angola-ameaca-ou-forca-para-o-desenvolvimento-analise?seccao=NJ_AFR
[2] O Relatório Africa at a Tipping Point (África no Ponto de Inflexão) pode ser encontrado aqui: http://mo.ibrahim.foundation/forum/downloads/
[3] Novo Jornal Online publicado 04/07/2017.

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