No nosso primeiro post sobre este
tema[1] reflectimos sobre os desafios que o
crescimento da população jovem africana, que passará de 230 para 452 milhões até
2050[2], representava para África em geral e muito
particularmente para Angola, onde se vislumbra uma estratégia de disponibilização
de kits de auto-emprego ao invés de
se adoptar o que temos chamado neste blog
de uma política industrial selectiva
por formas a dinamizar aquelas indústrias intensivas em mão de obra (ex.: indústria têxtil e confecções,
alimentar) capazes de proporcionar a sua população mais jovem uma melhor
perspectiva de vida através de um emprego sustentável no sector formal da
economia.
Ao lermos[3]
que João Lourenço, candidato a Presidente da República pelo partido MPLA nas próximas
eleições de 23 de Agosto 2017, durante a 29.º Cimeira de Chefes e Estado e de
Governo da União Africana, alertou que "Estamos a assistir com alguma
apreensão à emigração dos nossos jovens, sobretudo para a Europa, em condições
bastante perigosas e, diria mesmo, vergonhosas" fez-nos relembrar que, ainda
olhando para o contexto angolano, o problema não está nos jovens mas sim na estratégia adoptada por
quem tem por obrigação ‘resolver os problemas do povo’! No nosso artigo[1] indicamos que Angola tem uma população maioritariamente
jovem e como tal não pode o Executivo ficar alheio a essa realidade devendo
para tal assegurar que os projectos de desenvolvimento sejam priorizados tendo
em conta os empregos a gerar (para a juventude), receitas fiscais (para haver
mais para investir em outros sectores) e volumes de produção (substituindo as
importações e promovendo as exportações). Infelizmente esta não tem sido a
realidade material em Angola e em muitos outros países africanos.
Fruto dessa realidade, i.e. falta de políticas que ajudem a promover, como
indicado, as indústrias intensivas em
mão de obra, existe um nível de desemprego
considerável em África e muito particularmente entre a população jovem do continente.
Como resultado houve um aumento de conflitos armados (Sudão do Sul, República
Centro Africana), aumento da violência religiosa extremista em países como a
Nigéria, Somália, Mali, falasse mesmo num certo retrocesso nos processos democráticos
a nível do continente (ex.: República Democrática do Congo, Burundi). Em Luanda, verificamos um aumento da
criminalidade e do comércio ambulante precário. Apresentado desta forma, hoje a “emigração dos nossos jovens, sobretudo
para a Europa, em condições bastante perigosas e, (…), vergonhosas” como
assinala João Lourenço (o candidato do MPLA a PR) é, em nosso entender, o mal
menor para muitos países africanos.
Para o caso de Angola, a luz das próximas eleições, a solução passa por
exigir que os partidos políticos apresentem nos seus programas de governação propostas
concretas que ajudem a juventude a transformar-se
no motor do desenvolvimento (através do acesso ao emprego de qualidade) ao invés
de manterem o status quo e vê-la a
transformar-se numa enorme ameaça. Voltamos a lançar o desafio!
[1] Nós abordados este tema em primeira mão como: Wanda, F.
(2017) “Se
África Está no ‘Ponto de Inflexão’, O Que Será da Juventude em Angola: Ameaça
ou Força para o Desenvolvimento? – Analise”, Novo
Jornal (online)
disponível online: http://www.novojornal.co.ao/artigo/77218/se-africa-esta-no-ponto-de-inflexao-o-que-sera-da-juventude-em-angola-ameaca-ou-forca-para-o-desenvolvimento-analise?seccao=NJ_AFR
[2] O Relatório Africa
at a Tipping Point (África no Ponto de Inflexão) pode ser encontrado aqui: http://mo.ibrahim.foundation/forum/downloads/
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