Lemos
com algum cepticismo[1] que o novo canal fluvial
entre Angola (Rivungo, Kuando-Kubango) e Zâmbia (Shangombo), cuja obra esteve
avaliada em 40 milhões de USD, iria
impulsionar o comércio transfronteiriço entre os dois países bem como estimular
o turismo. Como já havíamos assinalado no post
de 14 de Junho 2015, “a grande maioria dos países africanos são produtores de produtos
primários i.e. matéria-prima” o que torna o comércio intra-africano exíguo.
Para que o comércio fosse de facto impulsionado seria necessário saber se foi
previamente feito um estudo sobre os produtos, para além do petróleo, que
Angola poderia exportar de forma competitiva para a Zâmbia. Isso porque sabemos
que a África do Sul (de certa forma também o Zimbabwe) não só tem empresas com
operações neste país, exemplo a Shoprite e a SABMiller, como também exportou
para Zâmbia em 2015 um volume avaliado em 2.67 mil milhões de USD[2]. Apesar da extensa fronteira
terrestre Angola não figurava entre os cinco (5) maiores exportadores para
Zâmbia em 2015 (lista2 liderada pela África do Sul, integrando ainda por ordem
de importância a República Democrática do Congo, China, Ilhas Maurícias e o
Quénia).
Ao
consultarmos alguns colegas do outro lado da fronteira, ficamos a saber que o
nosso cepticismo era partilhado pelos experts
de lá que encaram esse projecto como mais um dos vários (como o Terminal Mineiro
no Porto do Lobito) que, no entender dos mesmos, talvez não fossem
prioritários. Visto desta forma, acreditamos ser chegado o momento de o
Executivo angolano rever o seu modelo de avaliação dos investimentos públicos
avultados em infra-estruturas que poderão levar muito tempo a darem retorno ou
que com tempo revelar-se-ão inconvenientes. Do nosso lado, no que respeita ao
canal, esperamos que a nossa previsão esteja errada para o bem de Angola.
[2] Fonte: The Observatory of Economic Complexity http://atlas.media.mit.edu/en/profile/country/zmb/
(Acedido: 1 Agosto 2016).