terça-feira, 1 de agosto de 2017

O novo canal fluvial, de 40 milhões de USD, entre Angola e Zâmbia vai ter retorno?

Lemos com algum cepticismo[1] que o novo canal fluvial entre Angola (Rivungo, Kuando-Kubango) e Zâmbia (Shangombo), cuja obra esteve avaliada em 40 milhões de USD, iria impulsionar o comércio transfronteiriço entre os dois países bem como estimular o turismo. Como já havíamos assinalado no post de 14 de Junho 2015, “a grande maioria dos países africanos são produtores de produtos primários i.e. matéria-prima” o que torna o comércio intra-africano exíguo. 

Para que o comércio fosse de facto impulsionado seria necessário saber se foi previamente feito um estudo sobre os produtos, para além do petróleo, que Angola poderia exportar de forma competitiva para a Zâmbia. Isso porque sabemos que a África do Sul (de certa forma também o Zimbabwe) não só tem empresas com operações neste país, exemplo a Shoprite e a SABMiller, como também exportou para Zâmbia em 2015 um volume avaliado em 2.67 mil milhões de USD[2]. Apesar da extensa fronteira terrestre Angola não figurava entre os cinco (5) maiores exportadores para Zâmbia em 2015 (lista2 liderada pela África do Sul, integrando ainda por ordem de importância a República Democrática do Congo, China, Ilhas Maurícias e o Quénia).

Ao consultarmos alguns colegas do outro lado da fronteira, ficamos a saber que o nosso cepticismo era partilhado pelos experts de lá que encaram esse projecto como mais um dos vários (como o Terminal Mineiro no Porto do Lobito) que, no entender dos mesmos, talvez não fossem prioritários. Visto desta forma, acreditamos ser chegado o momento de o Executivo angolano rever o seu modelo de avaliação dos investimentos públicos avultados em infra-estruturas que poderão levar muito tempo a darem retorno ou que com tempo revelar-se-ão inconvenientes. Do nosso lado, no que respeita ao canal, esperamos que a nossa previsão esteja errada para o bem de Angola.



[1] Novo Jornal Online publicado 29/06/2017
[2] Fonte: The Observatory of Economic Complexity http://atlas.media.mit.edu/en/profile/country/zmb/ (Acedido: 1 Agosto 2016).