sábado, 16 de janeiro de 2016

Fraca demanda do petróleo ainda em 2016

Segundo o relatório especial do The Economist Intelligence Unit Industries 2016 o preço do barril de petróleo Brent (usado como referencia para o petróleo exportado por Angola) poderá neste ano situar-se a volta dos 53 US dólares. Isso poderá de certa forma ajudar Angola que elaborou o orçamento para este ano cotando o barril em 45 US dólares.

Contudo, fica subjacente neste relatório que a época áurea dos combustíveis fósseis parece ter terminado especialmente após o acordo alcançado em Paris. Esses desenvolvimentos terão um impacto directo em Angola que como se sabe ainda depende muito do petróleo não só como fonte de receita de divisas como também como suporte ao seu sector industrial.

Hoje não se pode negar que uma alteração no preço dos combustíveis acaba por ter uma repercussão directa na vida (e qualidade de vida) dos cidadãos afinal o preço do pão subiu dos 15 para 20 AKz, o candongueiro passou dos 100 para os 150 Akz. Isso porque ainda não conseguimos desenvolver outras fontes de energia para dar suporte aos esforços de industrialização (apesar da promessa de se colocar em actividade muitos dos projectos hidroeléctricos já em 2017).  

A situação que Angola vive hoje ilustra claramente a ideia de que um país pode ser até ser produtor de petróleo mas ainda assim ser energeticamente inseguro. Isto acontece, no caso angolano, pelo facto de não se ter desenvolvido uma indústria petrolífera que prestasse uma atenção especial a refinação e ao desenvolvimento de outros produtos derivados do petróleo com potencial a nível das exportações.

Neste blog já deixamos algumas ‘pistas’ que poderiam ajudar a minimizar os efeitos negativos desses eventos (ver por exemplo 14 de Fevereiro de 2015, 1 de Marco de 2015), pelo que, resta saber se quem de direito saberá tomar as medidas que se mostram necessárias.  

sábado, 2 de janeiro de 2016

Angola e os Desafios para 2016: Diversificação Económica Quo Vadis?

“Falamos durante muito tempo na diversificação da economia, mas fizemos muito pouco, mesmo assim vale mais começar tarde do que nunca começar.” Pres. Dos Santos (Mensagem por ocasião do Ano Novo)

Ao lermos a mensagem de sua Excelência o Presidente da Republica por ocasião do Ano Novo, decidimos dedicar anualmente[1] um post sobre quais poderão ser os desafios que Angola e os angolanos deverão superar nos mais diversos sectores do país. Esperamos um dia poder compilar essas reflexões num formato mais atractivo e acabado. Por uma necessidade de delimitação, neste post vamos partir do extracto acima apresentado para reflectirmos sobre algumas das acções levadas acabo pelo executivo no amplo esforço de diversificação económica. Sendo assim, vamos aqui analisar o tema tendo como ‘pano de fundo’ algumas das propostas que vimos emergir nos últimos anos com vista a dinamizar esse tão desejado processo.  

Criação de Pólos Industriais
No país existem em funcionamento pelo menos dois (2) pólos industriais, o de Viana e o da Catumbela[2]. A construção de pólos tem sido apontada como uma estratégia a seguir por países que tendo dificuldade de proporcionar infra-estruturas adequadas (incluindo serviços básicos como o fornecimento de electricidade e água), possam ainda assim desenvolver projectos industriais com as mínimas condições. Como exemplo de sucesso podemos citar países como a China, Vietname, Tailândia, que seguindo esta via conseguiram fazer crescer o seu sector da indústria transformadora.

No caso de Angola, nos pólos existentes temos em funcionamento poucas unidades industriais. Não sabemos se isso se deve a falta de informação mas o facto é que também não temos conhecimento que tenha sido feito um estudo para se identificar/priorizar o acesso aos polos. Contudo, apesar de se ter criado uma entidade para gerir os pólos industriais, a Rede Nacional de Pólos de Desenvolvimento Industrial, acreditamos ser necessário aplicar com clareza e rigor os critérios definidos para se ter acesso a esses pólos. Só assim se poderá evitar o apelo feito em 2014 pela então administração da Zona Económica Especial Luanda - Bengo (ver post de 10 de Julho 2014) onde visava atrair parceiros (investidores estrangeiros e nacionais) aos detentores de terreno naquele espaço, quando a partida sabíamos que apenas teria um espaço quem tivesse um projecto industrial.   

No caso do Pólo Industrial de Viana as indústrias que lá estão reclamam da qualidade dos acessos e dos serviços (fornecimento de luz eléctrica e água). Muitos dos espaços foram ocupados por armazéns ao invés de projectos industriais[3]. Vale acrescentar que através dos pólos industriais o país poderia criar clusters de produção onde indústrias de um mesmo sector poderiam criar sinergias para melhoria da qualidade dos seus produtos, optimização dos serviços de que necessitam e obter o suporte necessário visando a sua expansão para mercados externos.

Apoio as Micro, Pequenas e Medias Empresas (MPMEs)
Segundo uma brochura institucional de 16 de Novembro de 2012 o programa Angola Investe tinha como principal objectivo “criar e fortalecer as Micro, Pequenas e Medias Empresas (MPMEs) nacionais, tornando-as capazes de gerar emprego em grande escala e, assim, contribuir decisivamente para o desenvolvimento do país” viradas aos seguintes sectores: agricultura, pecuária e pescas, materiais de construção, industria transformadora.

No nosso post de 21 de Dezembro de 2015 tratamos de elucidar o contraste que ainda existe entre o desejo da Administração Geral Tributária (AGT) de reduzir a informalidade que se verifica no nosso mercado (onde 60% desta mesma informalidade é atribuída as MPMEs) e o facto das MPMEs terem pouco acesso a renda através da contratação pública. Num outro post de 13 de Dezembro 2015 citamos um estudo do nosso banco central, o Banco Nacional de Angola, que abordando a situação creditícia em Angola[4] chamava atenção pelo facto dos empréstimos ao sector dos serviços ser o “maior consumidor de crédito”[5].
A combinação da análise apresentada nesses dois posts poderá dar-nos uma visão (se bem que um tanto simplificada) do que se estará a passar com o principal objectivo do Angola Investe. O facto é que, segundo este estudo do BNA, contrariamente ao propósito do Angola Investe o crédito não está a ser direccionado para os sectores que a partida sabíamos que poderiam “contribuir decisivamente para o desenvolvimento do país”.

Politica Externa
Como apresentamos no nosso post de 26 de Julho 2015 Angola precisa articular a sua necessidade de identificar e desenvolver mercados externos na sua política externa, condicionando uma parte da verba destinada a ajuda externa no âmbito dos esforços na busca da “paz, segurança e estabilidade” conforme o PR nos apresentou na sua mensagem, a aquisição de bens e serviços made in Angola. Desta forma iriamos fazer com que os produtos (e serviços) que estão a contribuir para uma melhor diversificação da nossa economia proporcionassem também divisas para o país contribuindo assim para redução da dependência das receitas do petróleo (e diamantes).

Diversificação Económica Quo Vadis
A nossa realidade actual mostra que essas três (3) áreas acima analisadas não estão ainda a dar os resultados esperados devido ao que nós chamamos neste blog de ausência de uma política industrial selectiva.

Ao adoptarmos uma política industrial selectiva iriamos ser capazes de definir que tipo de indústria priorizar em cada um dos pólos industriais. Isso não significa que qualquer outro tipo de indústria não teria acesso a essas infra-estruturas, pelo contrário, significa dizer que teriam um acesso secundário. Devido a esta situação (maior procura do que oferta, devido a escassez de recursos) o acesso e permanência, nesses pólos, deveriam ser condicionados a apresentação de resultado mensuráveis (de produção e receita, geração de empregos e volume de exportação).

Uma vez definida a localização geográfica das indústrias[6], passaríamos ao mecanismo de financiamento. O programa Angola Investe deveria manter o seu formato inicial que conforme apresentamos trataria de “criar e fortalecer as MPMEs (Micro, Pequenas e Medias empresas) nacionais, tornando-as capazes de gerar emprego em grande escala e, assim, contribuir decisivamente para o desenvolvimento do país” viradas aos seguintes sectores: agricultura, pecuária e pescas, materiais de construção, industria transformadora. A política externa deveria ajudar a garantir que os produtos made in Angola, resultantes destas iniciativas, conquistassem espaço no mercado externo.

Enfim, no que toca a diversificação económica contrariamente ao PR e para sermos justos a quem no executivo tem estado a fazer esse já mencionado esforço de diversificação, consideramos que muito já foi feito e tem sido feito. Contudo, os desafios para Angola em 2016 (e adiante) passariam, a luz do que vimos nesta reflexão, por (1) pragmatismo para fazer apenas o que agrega valor. No caso dos pólos industriais dever-se-ia primeiro tratar de por a funcionar bem os que hoje estão em funcionamento, Viana e Catumbela, tirar-se ilações desta experiência antes de expandir-se para outras áreas. (2) Condicionalismo no que ao acesso a recursos diz respeito. Dever-se-á dar acesso aos pólos industriais e ao financiamento a empreendedores capazes de se comprometerem a atingirem metas de produção, receitas, empregos, volume de exportação bem definidas sob pena de verem retirados tais benefícios. (3) Rigor no que se propõe fazer atendendo ao facto de que os recursos ao dispor do processo de diversificação são limitados e da necessidade que o país tem de diversificar as suas fontes de divisas. Tudo o que acabamos de apresentar poderia ser resumido dentro do que temos estado a chamar neste blog de política industrial selectiva.




[1] Vamos tentar fazer um esforço no sentido de produzirmos essa reflexão no inicio de cada ano para que os nossos leitores possam ao longo do período em análise tecerem outros comentários e/ou efectuarem outras reflexões.
[2] Segundo sabemos o ministério de tutela (Min. Da Industria) tenciona criar cerca de 22 pólos em todo o país.
[3] Vale aqui dizer que isso não significa que os armazéns não sejam necessário mas que eles deveriam dar suporte a actividade industrial e não servir de posto de venda para produtos importados.
[4] BNA (2013) “Estudo Sobre a Potenciação de Crédito Na Economia Angola”.
[5] Ênfase é nosso.
[6] A luz da necessidade de se criar clusters de produção.