sábado, 2 de abril de 2016

Cultura e desenvolvimento: Até que ponto a cultura de um povo determina a sua capacidade de se desenvolver (ou não)?

Muito temos ouvido sobre a incapacidade do angolano ser productivo, de não gostar de trabalhar, especialmente quando comparado com povos de outras origens ex.: Chineses ou asiáticos em geral. Muitos chegam até a afirmar que isso acontece porque “a nossa cultura é mesmo assim, é de estar relaxado”. Mas será que isso sempre foi assim? Diz a sabedoria popular que a necessidade é a mãe de todas as invenções, o que significa que quando em situação precária as pessoas acabam por criar artifícios para sobreviverem.

O caso Chinês e não só…
Hoje diz-se que é devido a “cultura Chinesa” baseada no Confucionismo que a China atingiu o nível de desenvolvimento que apresenta nos nossos dias. Essa “cultura” faz com que o povo Chinês se dedica ao trabalho. Contudo fica a pergunta: Se assim fosse, por que razão não atingiu a China tal nível de desenvolvimento a muito mais tempo, uma vez que o Confucionismo é uma religião milenar? Já agora vale também perguntar: Por que razão o capitalismo não surgiu na China? E para que conste que isso não se aplica apenas ao caso Chinês, Ha-Joo Chang (2005) sugere que antes de empreenderem com sucesso o seu processo de industrialização as pessoas de países como a Alemanha e Japão também eram tidas como preguiçosas por pessoas de países, na altura, mais desenvolvidos. Hoje, acreditamos que a conversa é diferente!

O caso de Angola
O factor guerra destruiu os meios de produção e gerou uma dependência excessiva no petróleo, cujas receitas são controladas centralmente pelo Executivo. Ao longo dos anos as pessoas foram se habituando a ideia de estarem dependentes, de esperarem que alguém faça tudo por elas. A reforçar esse tipo de mentalidade podemos citar a construção do socialismo em período de guerra. Como se sabe numa sociedade socialista as decisões importantes são tomadas a nível central, existe um grande controlo sob a actividade produtiva; dai que apesar de o “espirito” empreendedor nunca ter morrido em Angola, evoluiu de uma forma diferente, isto é, transformou-se em esquemas, “biscatos” para sobrevivência mas que até a este nível necessitava-se de uma ligação com alguém com influência para agilizar tal esquema/biscato.

Em suma, dizer que o angolano não tem apetência para o trabalho não é correcto de todo. Afinal tal como o chinês (a pouco tempo) e antes deles os alemães e japoneses também o fizeram, temos sim que incentivar a mudança de mentalidade, criando oportunidades e desafiando as mentes, para tal, programas credíveis de apoio ao empreendedorismo poderão ser bem-vindos. Afinal quando o censo de 2014 nos mostrou que na altura (porque hoje acreditamos que o número seja superior) 24% da população activa estava desempregada, devemos pensar que 24% da população está a ver coarctado um direito constitucionalmente consagrado que é o direito ao trabalho (artigo 76º da constituição de 2010).

2 comentários:

  1. Bem, penso que uma sondagem seria uma boa prova do que o sr.Professor defende porém, ao meu ver e pelas pessoas q já vi e vejo(ouvindo é claro) afirmo à positiva com relação a preguiça do Angolano. Concordo de que o sistema socialista(e muitas vzs com sentido paternalista) contribuiu para que se forma-se essa cultura de esperar relaxado que façam as coisas por nós e isso levou a q as pessoas pouco se esforcem para "suar" e fazer o seu trabalho com maior dedicação e perfomance. é so fazermos uma breve pesquisa do por que a maior parte das pessoas quer ser funcionário público e ja vamos ter as respostas e certamente(das q ouço sempre) essas não faltaram: i) o Estado dá segurança-n existe expulsão, pode-se faltar; ii) Reforma garantida; entre outras. Conheço pessoas q até hoje estão a espera que o Estado resolva os seus problemas, uma delas é meu pai, um ex-militar a espera de reitegração, ja na caixa social, q nunca chega e pouco se fez para trabalhar...
    Portanto com uma cultura de esperar e pouca iniciativa individual de empreender não há como não afectar negativamente o I&D(Inovação e Desenvolvimento).BY: DhWilson

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    1. Caro DhWilson, o que fazemos nesta reflexao e' mostrar que pessoas de paises como a China, Alemanha e Japao que hoje sao tidas como empreendedoras e dedicadas ao trabalho em algum momento das suas vidas ja foram tidas como preguicosas! Dai que a cultura de um povo e' algo que evolui. Note que essa mudanca de mentalidade acontece quando os paises abracam um processo de industrializacao rapido. By: FW

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