quinta-feira, 16 de novembro de 2017

A Falta de Consciência dos Grupos Económicos Angolanos Reflecte-se no Fraco Desempenho da Indústria Transformadora*.

No seu discurso à nação em 2015, por ocasião do 40º Aniversário da Independência, José Eduardo dos Santos afirmou e passamos a citar que “Não podemos estruturar o sistema económico nacional sem a presença no mundo do capital e do trabalho de empresas e grupos económicos angolanos conscientes e fortes, pois eles serão a garantia da nossa independência.” Apesar de concordarmos, neste post vamos ilustrar como apesar de interessante a Lei do Fomento do Empresariado Privado Angolano aprovada em 2003 pouco tem feito para assegurar a tão desejada independência económica, que esteve na base da sua aprovação através, por exemplo, de um forte contributo ao crescimento da indústria transformadora[1].

Num outro fórum ilustramos que o problema de Angola não passa necessariamente pela existência de grupos económicos com tendência a constituir monopólios mas muito mais pelos sectores em que estes grupos intervêm. Olhando para o processo de industrialização no período colonial salta a vista a existência, igualmente, de grupos com tendência a constituir monopólios. Como exemplo temos os seguintes grupos: Companhia União Fabril (CUF) dos Irmãos Mello, Grupo Champalimaud, Grupo Espírito Santo, Banco Português de Atlântico.

O que fizeram esses grupos no tempo colonial que hoje NÃO está sendo feito?
Esses grupos empresariais tinham ligações com a indústria transformadora, banca, comércio, transportes e agricultura como podemos ver abaixo o caso do grupo Companhia União Fabril (CUF) cf. Guerra (1973).
.


Resultando num crescimento significativo da indústria transformadora (como percentagem do PIB) em 13 anos, imagem abaixo.


Hoje os “nossos milionários” ao invés de capitalizarem o controlo que têm da banca através da aposta nos sectores primários (agricultura) e secundário (indústria transformadora) não apenas por via de financiamento de projectos nesses sectores mas acima de tudo pela participação directa em projectos nesses sectores, estão mais virados para os sectores de serviços conforme Costa et. al. (2014)[1] nos mostram na imagem abaixo:


Nesses dois exemplos fica claro que a presença de monopólios no tempo colonial não impediu o crescimento da indústria transformadora especialmente no que toca ao seu contributo para o PIB. O fraco desempenho da indústria transformadora (como percentagem do PIB) no período pós-guerra mostra que contrariamente ao discurso político hoje os grupos económicos angolanos não parecem conscientes da necessidade de investirem, para além dos serviços, nos sectores primários (agricultura) e secundário (indústria transformadora) e como resultado ao fim de 13 anos (2003 – 2016) o contributo da indústria transformadora não é o mais desejado.





*Publicado no Jornal Expansão 1 Dez 2017 "A ‘culpa’ Fraco Desempenho da Indústria Transformadora é do modelo de Fomento Empresarial." http://expansao.co.ao/artigo/87939/a-culpa-do-fraco-desempenho-da-ind-stria-transformadora-e-do-modelo-de-fomento-empresarial?seccao=5 
[1] Costa J, Lopes J, Louca, F (2014) Os Donos Angolanos de Portugal.



[1] Kaldor (1967) explica que a indústria transformadora gera “increasing returns”, isto é, economia de escala (quanto maior for a produção, através de um processo de eficiência operacional, o custo por unidade pode ser reduzido).

2 comentários:

  1. Saudações Professor Wanda!
    O período em que se observa o contributo para o PIB visto em 13 anos no período colonial em que se se observava a ligação do "nosso ricos" com a banca, comercio, transporte e agricultura, penso que está associado ao facto que na visão que se tinha na altura se via estes sectores como "diamante que depois de lapidado" poderia criar as condições para que Angola como a galinha dos ovos de dourados de Portugal prosperaria ainda mais. Os fazedores da política económica nacional não eram os Nacionais. A visão dos nossos ricos estava virada não apenas a uma estrutura de consumo como existe hoje. os nosso ricos hoje estão interessados em uma estrutura em que o retorno se observa no curto prazo. O problema está no tempo de recuperação de capital investido e prestação de serviços geralmente sugerem recuperações de curto prazo.
    Concordo quando diz que o problema não está no monopólio em sí mas sim no que se faz com a detenção deste monopólio. Houve uma vontade politica por detrás da formação destes grupos económicos, se deu certo no passado que hoje se repita mas claro sendo "impulsionados".

    ResponderEliminar
  2. A luz do que apresentas a grande questão hoje e' será que o novo Executivo vai conseguir "impulsionar" os "nossos ricos" a investirem nos sectores produtivos, i.e. a pensar no longo prazo? :)

    ResponderEliminar