No seu discurso à nação em 2015, por ocasião do 40º
Aniversário da Independência, José Eduardo dos Santos afirmou e passamos a
citar que “Não podemos estruturar o sistema
económico nacional sem a presença no mundo do capital e do trabalho de
empresas e grupos económicos angolanos
conscientes e fortes, pois eles serão a garantia
da nossa independência.” Apesar de concordarmos, neste post vamos ilustrar como apesar de interessante a Lei do Fomento do Empresariado Privado
Angolano aprovada em 2003 pouco tem feito para assegurar a tão desejada
independência económica, que esteve na base da sua aprovação através, por
exemplo, de um forte contributo ao crescimento da indústria transformadora[1].
Num outro fórum ilustramos que o problema de Angola não
passa necessariamente pela existência de grupos económicos com tendência a
constituir monopólios mas muito mais pelos sectores em que estes grupos
intervêm. Olhando para o processo de industrialização no período colonial salta
a vista a existência, igualmente, de grupos com tendência a constituir
monopólios. Como exemplo temos os seguintes grupos: Companhia União Fabril (CUF) dos Irmãos Mello, Grupo Champalimaud, Grupo
Espírito Santo, Banco Português de Atlântico.
O que fizeram
esses grupos no tempo colonial que hoje NÃO está sendo feito?
Esses grupos empresariais tinham ligações com a indústria transformadora, banca,
comércio, transportes e agricultura como
podemos ver abaixo o caso do grupo Companhia União Fabril (CUF) cf. Guerra (1973).
.
Resultando num crescimento significativo da indústria transformadora (como percentagem do PIB)
em 13 anos, imagem abaixo.
Hoje os “nossos milionários” ao invés de capitalizarem o controlo que têm da banca através da
aposta nos sectores primários (agricultura) e secundário (indústria
transformadora) não apenas por via de financiamento de projectos nesses
sectores mas acima de tudo pela participação
directa em projectos nesses sectores, estão mais virados para os sectores
de serviços conforme Costa et. al. (2014)[1]
nos mostram na imagem abaixo:
Nesses dois exemplos fica claro que a presença de monopólios no tempo
colonial não impediu o crescimento da indústria transformadora especialmente no
que toca ao seu contributo para o PIB. O fraco desempenho da indústria
transformadora (como percentagem do PIB) no período pós-guerra mostra que
contrariamente ao discurso político hoje os grupos económicos angolanos não parecem conscientes da necessidade de investirem,
para além dos serviços, nos sectores primários (agricultura) e secundário
(indústria transformadora) e como resultado ao fim de 13 anos (2003 – 2016) o contributo da indústria transformadora não
é o mais desejado.
*Publicado no Jornal Expansão 1 Dez 2017 "A ‘culpa’ Fraco Desempenho da Indústria Transformadora é do
modelo de Fomento Empresarial." http://expansao.co.ao/artigo/87939/a-culpa-do-fraco-desempenho-da-ind-stria-transformadora-e-do-modelo-de-fomento-empresarial?seccao=5
[1] Costa J, Lopes J, Louca, F (2014) Os Donos Angolanos de Portugal.
[1] Costa J, Lopes J, Louca, F (2014) Os Donos Angolanos de Portugal.
[1] Kaldor (1967) explica que a indústria transformadora
gera “increasing returns”, isto é, economia de escala (quanto maior for a
produção, através de um processo de eficiência operacional, o custo por unidade
pode ser reduzido).
Saudações Professor Wanda!
ResponderEliminarO período em que se observa o contributo para o PIB visto em 13 anos no período colonial em que se se observava a ligação do "nosso ricos" com a banca, comercio, transporte e agricultura, penso que está associado ao facto que na visão que se tinha na altura se via estes sectores como "diamante que depois de lapidado" poderia criar as condições para que Angola como a galinha dos ovos de dourados de Portugal prosperaria ainda mais. Os fazedores da política económica nacional não eram os Nacionais. A visão dos nossos ricos estava virada não apenas a uma estrutura de consumo como existe hoje. os nosso ricos hoje estão interessados em uma estrutura em que o retorno se observa no curto prazo. O problema está no tempo de recuperação de capital investido e prestação de serviços geralmente sugerem recuperações de curto prazo.
Concordo quando diz que o problema não está no monopólio em sí mas sim no que se faz com a detenção deste monopólio. Houve uma vontade politica por detrás da formação destes grupos económicos, se deu certo no passado que hoje se repita mas claro sendo "impulsionados".
A luz do que apresentas a grande questão hoje e' será que o novo Executivo vai conseguir "impulsionar" os "nossos ricos" a investirem nos sectores produtivos, i.e. a pensar no longo prazo? :)
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