Parece ser já uma constatação que os países africanos
precisam de se industrializar se quiserem evitar
os booms e bust que os ciclos dos preços das commodities proporcionam, por outras palavras, para que estes
países africanos deixem de estar expostos a volatilidade dos preços ditados pelos mercados internacionais[1]. Para
além disso a ausência de industrialização faz com que hoje se verifique um
nível de comércio intra-africano
muito baixo. Como explicamos, por exemplo, no nosso post de 1 de Março de 2015, os países
africanos precisam industrializar-se se quiserem igualmente melhorar o que a
literatura trata por terms of trade (i.e.
termos de negociação). Desta forma para além de exportarem/comercializarem
matéria-prima bruta iriam igualmente comercializar produtos acabados com valor
acrescentado.
Como África poderia rapidamente se industrializar[2]
para aumentar as trocas comerciais no continente? Um processo de
industrialização passa, segundo Kaldor (1967), por um aumento da produtividade no sector agrário. Mas isso por si só não
basta é necessário infraestruturas básicas (acesso a electricidade, água,
estradas), seguindo-se do acesso ao financiamento bem como de recursos humanos
qualificados capazes de sustentarem tais empreendimentos.
Num contexto, como o que Angola vive actualmente, em que
não é possível, por exemplo, disponibilizar infraestrutura básica por todo o
país logo, é sensato identificar-se
espaços específicos infraestruturar[3] e
a partir desses espaços fomentar o surgimento de uma indústria moderna. É com
base nessa perspectiva que se justifica
o surgimento de pólos de desenvolvimento industriais e/ou Zonas Económicas
Especiais. Para o caso concreto de Angola o relatório Doing Business 2018 produzido pelo Banco Mundial aponta aspectos
como acesso a electricidade (rank
165), registo de propriedade
(rank172) que num contexto de localização do empreendimento industrial num PDI
ou ZEE não deveriam constituir problema e o país poderia assim melhorar a sua
posição.
Os factos indicam que nos dois primeiros pólos do país,
Viana e Catumbela, contrariamente ao que se esperava temos pouca actividade
industrial. Para o caso de Viana apenas existiam em 2015 150 indústrias de
manufactura num universo de 500 empresas, significa dizer que 70% do espaço criado (e minimamente
infra-estruturado) não está a ser usado para criar a dinâmica necessária para a
transformação estrutural da economia (ver por exemplo o post de 1 de Março 2015). Ao invés o espaço parecia estar a ser usado para o
armazenamento (e respectiva comercialização) de produto importado[4].
Enfim, para o caso de Angola temos nos pólos industriais de Viana e
Catumbela como os exemplos a
partir dos quais o ministério de tutela deveria tirar as devidas lições sendo
mais pragmático. Por outras palavras, tornar
esses dois espaços verdadeiramente indústrias, tirar lições e avançar para
outras experiências. Caso não se concentrar a actividade industrial nos PDIs e
ZEE, Angola dificilmente poderá
melhorar a sua qualificação nos rankings como o doing business do Banco Mundial apesar dos esforços em outros
aspectos do mesmo ranking. O Doing
Business 2018 mostra que os PDIs e a ZEE ainda
não estão a fazer a diferença!
[1] O Relatório African
Economic Outlook 2017 (Perspectivas
Económicas em Africa) foi dedicado ao tema do empreendedorismo e
industrialização.
(1) Todos os países se desenvolvem e
atingem altos níveis de rendimento per
capita através da
industrialização.
(2) Na etapa inicial as indústrias
nascentes desenvolvem-se através de uma certa protecção.
(3)
Quem dizer o contrário estará mentindo.
[3] Este processo pode ser feito através de parcerias
público-privadas ou por entidades privadas (através de concessão de
exploração).
[4] Felizmente o ministério de tutela através do IDIA está rescindir
contracto de “Direito de
Superfície com superficiários no Pólo de Desenvolvimento Industrial de Viana,
cujos terrenos disponibilizados encontram-se em situação de abandono ou por não
implementação do projecto em tempo útil” a nível do PIV em Luanda, ver Newsletter do PIV de 27 de Out. 2017. Apesar de não corrigir a
situação descrita acima serve para mostrar que existe uma mudança no sentido,
pensamos nós, de se dinamizar o espaço dando-lhe o uso previsto.
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