sexta-feira, 11 de outubro de 2019
GDAI Webinar#3 - The Angolan political transition: challenges to find the right path for sustainable development - with Fernandes Wanda
Please register and get the link to access the webinar here: bit.ly/GDAIwebinar3-AngolanPoliticalTransition
domingo, 7 de julho de 2019
Em Angola não falta apenas médicos, falta antes pragmatismo!*
Ao lermos nos últimos dias, em jornais publicados em
Luanda, que Angola tinha um médico para cada 4.400 habitantes não ficamos
surpreendidos de todo. A debilidade dos serviços de saúde, em Angola, é tão grave que quase todos governantes
vão para o exterior para fins de tratamento médico. Por este facto ter um
impacto muito grande na economia[1], ficamos
sim desapontados que apenas nos foi apresentado o problema e nada de concreto
se falou sobre a solução. Em Julho de 2001 quando estávamos na Universidade de
Arizona, Tucson EUA, estadia enquadrada na bolsa de investigação pós-graduada Hubert H. Humphrey Fellowship[2], tomamos
contacto com um problema semelhante que havia no Estado de Arizona cuja solução
pode servir de inspiração para o Executivo angolano.
O
problema: O governo do Estado de Arizona apercebeu-se que muitas comunidades
rurais, particularmente aquelas ligadas aos nativos americanos (vulgarmente
conhecidos como índios) não tinham acesso a bons cuidados de saúde por falta de
médicos, como o que a grande maioria dos angolanos vive hoje[3]. A
formação de médicos (nas mais diversas especialidades) a nível das
universidades existentes em Arizona era muito onerosa para as famílias, pelo
que, após conclusão do curso estes jovens médicos buscavam estágios
profissionais e posterior colocação nos grandes centros urbanos, por exemplo,
de Tucson e Phoenix.
A
solução: Ao invés de ‘importar’ mão-de-obra de outros estados, o governo do estado
de Arizona decidiu subsidiar os programas de formação em medicina nas
universidades existentes naquele estado. Isto fez com que as famílias deixassem
de gastar tanto com a formação dos seus educandos e permitiu que mais jovens
optassem, na universidade, pela formação em medicina agora muito mais barata.
Em contrapartida, todos os
beneficiados/participantes neste esquema de formação tinham que dedicar 2-3 anos de trabalho nas zonas rurais
após formação. Neste período de tempo as autoridades nessas zonas eram
encorajadas a criarem incentivos para estes jovens fixarem residência. Então
criavam facilidades de acesso a habitação e enfatizavam a qualidade de vida,
para quem quisesse constituir família, do que seria criar filhos longe dos
‘perigos’ dos grandes centros urbanos.
Para o caso de Angola, o Executivo embarcou num ambicioso projecto de construção de centralidades por quase todo o país. Este investimento, já realizado, poderia servir de meio de atracção de jovens médicos. Hoje, Angola tem várias universidades, entre públicas e privadas, que oferecem formação em ciências médicas[4]. Acreditamos que um programa idêntico poderia ser gizado e que poderia ser muito mais sustentável do que a solução habitual do Executivo que traduz-se na contratação de mão-de-obra estrangeira.
Em Arizona o governo exigiu que as instituições participantes no esquema apresentassem resultados em
termos de qualidade dos formandos, departamentos equipados, bibliotecas com acervo bibliográfico
actualizado e corpo docente e administrativo regularmente em processos de superação profissional. As instituições
que não atingissem os objectivos definidos eram excluídas do programa com impacto directo na sua reputação. Afinal nenhuma família
mandaria o seu educando para se formar em medicina numa instituição que fosse
afastada deste programa ou que não
fizesse parte do programa, isso porque levantava-se logo dúvidas sobre a
qualidade da formação oferecida. Como se pode perceber aqui, era do interesse das próprias instituições
fazerem parte e tornarem-se competitivas aplicando da melhor forma os apoios recebidos.
Esta experiência de Arizona mostra que até numa economia predominantemente capitalista o governo pode intervir
para assegurar a disponibilidade de um bem socialmente maior que é a saúde dos
seus cidadãos.
Para o caso de Angola a atribuição de bolsas internas, a
nível da universidade, apenas resolve uma pequena parte do problema, não
resolvendo o problema da qualidade da formação. Apresentamos aqui uma solução
que em Arizona garantiu, de forma sustentável, a disponibilidade de serviços de
saúde para as populações em zonas rurais[5]. Em
Angola os recursos para um programa semelhante poderiam advir de uma reavaliação de todos aqueles programas
que continuam a ter dotação na proposta de OGE 2018, sem que tenham apresentado
resultados credíveis na governação
passada. Podemos indicar, a título de exemplo, a dotação que o Ministério da
Juventude e Desportos (60 milhões de Kwanzas) e o da Acção Social, Família e
Promoção da Mulher (540.250.000 Kwanzas) têm para ‘Apoio Financeiro As Associações De Utilidade Pública’ sem que
saibamos quem são elas e o que fazem.
Acreditamos que este caso vem mais uma vez ilustrar o que
chamamos no nosso texto anterior[6] de
“frequente desarticulação sectorial” i.e. aqui abordamos uma possível articulação
entre os sectores da Saúde, Ensino Superior, Habitação, o que revela que o
maior problema do Executivo angolano talvez não seja a falta de recursos mas antes,
diríamos nós aqui, a falta de pragmatismo!
*Publicado no J. Expansão:
F. Wanda (2018) ‘Em Angola não faltam apenas médicos, falta antes
pragmatismo!’, coluna “Milagre ou Miragem?” Expansão, Edição 458, 2
Fevereiro, pág. 37.
[1] Afecta a produtividade dos trabalhadores. Na proposta OGE
2018 o Ministério da Saúde prevê gastar 2.199 milhões de Kwanzas com evacuações
médicas.
[2] A Embaixada Americana em Angola oferece todos os anos a
bolsa de investigação pós-graduada Hubert
H. Fellowship.
[3] Em Angola existe a falta de técnicos a vários níveis e em
alguns casos falta de infraestruturas e equipamentos.
[6]
Wanda, F. (2018)
‘Desarticulação na reabilitação da industria têxtil’, Expansão 19 Janeiro.
sábado, 11 de maio de 2019
Que indústria é esta?
Ao lermos no Jornal
de Angola um título dizendo “Indústria
nacional ‘está no caminho certo’” nas palavras do Ministro de Estado e do Desenvolvimento Económico, não poderíamos
deixar de nos perguntar, de que
indústria estarão a falar??
O Indicador de
Clima Económico (ICE), que reflecte as expectativas dos agentes económicos
produzido pelo I.N.E., mostra que desde o
1º Trimestre de 2009 a produção actual tem sido abaixo da perspectiva, isto
é, os agentes económicos indicam que não têm sido capazes de atingirem as suas
metas de produção. ICE indica que os empresários do sector apontam a falta de matéria-prima devido a dificuldades financeiras, falta de água e energia eléctrica. Como
consequência a perspectiva de emprego
tem vindo a degradar-se desde 2011. Das 167.330
empresas em actividades em 2017, cf. dados do Anuário de Estatística das Empresas 2014-2017 do I.N.E., apenas 6%, i.e. 2.963 empresas, pertencem ao sector da indústria transformadora comparadas com 49% ao sector do comércio.
Se quem produz hoje
reclama da falta de condições básicas como água e energia eléctrica, como é que o Executivo pode desejar
aumentar o número de unidades de produção? A solução, como indicamos num outro texto passa sim, por uma adequada
infra-estruturação dos pólos industriais de Viana e Catumbela, e um incentivo a deslocação de unidades fabris existentes, e facilitação da
instalação de futuros investimentos, para a Zona Económica Especial (pensando
já na exportação) poderia contribuir para redução
dos custos de produção dos agentes económicos.
Por isso, numa outra
publicação, dissemos que a “Industria
Transformadora em Angola está Longe de ser o ‘Factor Decisivo” (Link
abaixo).
quarta-feira, 10 de abril de 2019
O que nos falta para traçarmos os caminhos de um futuro promissor para Angola?*
A
África tem hoje 54 países. Claro que não podemos falar do continente como se de
um país se tratasse. Temos que analisar e contar 54 estórias diferentes. No
continente países como a Etiópia e de certa forma o Ruanda estão na linha da
frente na implementação de uma Política Industrial, para além da África do Sul,
o país mais industrializado a sul do Saara. Como resultado a Etiópia, por
exemplo, é a economia que mais cresce em África, tendo de 2005 – 2016 crescido
em média 10.5% do PIB e com projeções para um crescimento positivo perto dos 8%
por ano. Já Angola, pelo contrário, vive uma recessão há 3 anos consecutivos
sem que se possa vislumbrar uma saída credível.
Á
luz do que foi acima apresentado, acreditamos nós que a pergunta a ser feita
deve ser, como sugerimos, “o que nos falta para traçarmos os caminhos de um futuro promissor para
ANGOLA?” A resposta a esta questão temos vindo, neste espaço, regularmente a apresentar
S.A.I.D.A. i.e. Sugestões e Análise de Informação sobre o Desenvolvimento de
Angola. Por exemplo, num dos nossos textos indicamos que Angola não pode
depender da importação de produtos para alimentar a sua população, que cresce
3% ao ano, e sustentar a sua indústria transformadora emergente. Como explicar
que 90% da produção agrícola em Angola provem da agricultura de sequeiro e que o
investimento feito em perímetros irrigados e em fazendas de larga escala até ao
momento não produziu os resultados desejados? Alguma coisa não está correcta e
este problema requer a devida atenção.
Não é surpresa que no País,
segundo dados do I.N.E., 67% dos desempregados deixou de procurar emprego,
apesar de hoje os jovens estarem melhor qualificados. Realmente é caso para o
Executivo angolano refletir e interrogar-se, como foi feito e muito bem pelo Presidente
João Lourenço em Abu Dhabi, “em que falhamos”?
*Adaptado de:
Wanda, F. (2018) ‘Angola está numa
encruzilhada!’ Expansão, Edição 504,
21 Dez. http://www.expansao.co.ao/artigo/107645/angola- esta-numa-encruzilhada-?seccao=7
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019
Angola está numa encruzilhada!*
Apesar do discurso político em Angola apregoar um certo
pragmatismo na definição de uma estratégia para o desenvolvimento do país, as
acções práticas têm vindo a se revelar bastante enraizadas numa ideologia
neoliberal, diga-se mesmo anistórica e irrealista[1],
em que deseja-se para o Estado, numa economia em transição, um mero papel de ‘coordenador
e regulador’ da actividade económica. Tal visão contrasta com o resultado
obtido em outras realidades como, por ex., a de Singapura, país
que ocupa o 3º lugar no Índice de Competitividade Global 2017 – 2018. Em
Singapura 90% das terras do país são propriedade do Estado; 85% das casas são
propriedade do Estado; e 22% do PIB é produzido por empresas públicas[2]!
Este e outros exemplos, como nos explicam especialistas como Ha-Joo Chang,
mostra que havendo disciplina e uma componente de condicionalidade com
cláusulas explícitas de penalização para os gestores públicos em caso de
incumprimento das metas definidas, as empresas públicas podem tornar-se tão
rentáveis como qualquer projecto privado. Por que não em Angola?
As associações empresariais pedem que o Executivo regularize as suas dívidas
junto dos seus filiados. Os industriais angolanos indicam a falta de matéria-prima, falta de água e energia
eléctrica como os principais problemas. Pelo que, (1) regularizar a dívida e
assegurar que a despesa pública, i.e. contratação de bens e serviços, contribua
igualmente para redução das importações, devem merecer a atenção do Estado em
2019; (2) uma melhor rentabilização dos perímetros irrigados existentes em
Angola poderia contribuir para produção local de matéria-prima e redução da
importação de produtos alimentares; (3) dotar os pólos industriais, por ex.: de
Viana e Catumbela, de infra-estruturas adequadas bem como facilitar a
instalação de futuros investimentos na Zona Económica Especial (pensando já na
exportação) poderiam permitir aos investidores produzirem com um custo mais
competitivo. Sim, Angola está mesmo numa encruzilhada.
A ausência de acções pragmáticas visando a rápida
industrialização de Angola é também agravada pela introdução de outros produtos
primários, para além do petróleo e diamantes, como a banana, café, rochas
ornamentais, madeira como solução para o problema da diversificação das
exportações conforme preconizado pelo Executivo através do PRODESI. Adoptar uma postura
semelhante a de países como a Etiópia[1],
i.e., atrair investidores (nacionais e estrangeiros) interessados em tirar o
maior proveito possível de programas como o AGOA–
Africa Growth Opportunity Act dos E.U.A. e a
possibilidade que a União Europeia dá
aos países de rendimento baixo de exportarem com isenções para a zona Euro tudo
excepto armas, isso antes de Angola ser adversamente graduada em 2021 pela ONU em país de
rendimento médio ancorado no petróleo, mostra-se necessário.
A solução
requer uma missão, vontade política e exige disciplina uma sinergia entre o
sector público e as associações empresariais nacionais envolvendo as
instituições de ensino e pesquisa. Enfim, hoje mais do que
nunca seria talvez conveniente resgatar
algumas das velhas palavras de ordem como, disciplina
e produção. Afinal, Angola está numa encruzilhada!
Wanda, F. (2018) ‘Angola está numa encruzilhada!’ Expansão, Edição 504, 21 Dez. http://www.expansao.co.ao/artigo/107645/angola-esta-numa-encruzilhada-?seccao=7
[1]
Wanda,
F. (2018) ‘Fútila
em Angola versus Adama na Etiópia: Um ineficiente Estado dificilmente leva o
sector privado à prosperidade.’ Expansão, Edição 502, 7 Dez.
[1]
Wanda, F. (2017)
'Solução da crise económica angolana? Disciplina, disciplina, disciplina!', Expansão, Edição 421, 12
Maio.
Subscrever:
Mensagens (Atom)